sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Xadrez é Poesia!

XADREZ
Jorge Luis Borges

I

Em seu grave e longínquo lugar, os jogadores
regem as lentas peças. O tabuleiro
os detém até a aurora em seu severo
âmbito, onde se odeiam duas cores.

De dentro irradiam mágicos rigores.
As formas: Torre homérica, ligeiro
Cavalo, armada Dama, derradeiro Rei
oblíquo Bispo e Peões agressivos.

Quando os jogadores houverem ido,
Quando o tempo os haver consumido,
Certamente não haverá cessado o rito.

No Oriente se iniciou esta guerra
cujo anfiteatro é hoje toda a terra.
Como no outro, este jogo é infinito.

II

Tênue Rei, enviesado Bispo, encarniçada
Dama, Torre direta e Peão ladino
sobre o negro e o branco do caminho
buscam e travam sua batalha armada.

Não sabem que a mão assinalada
do jogador governa seu destino.
Não sabem que um rigor adamantino
sujeita seu arbítrio e a sua jornada.

Também o jogador é prisioneiro
(a sentença é de Omar*) de outro tabuleiro
de negras noites e de brancos dias.

Deus move o jogador, e este a peça.
Que Deus atrás de Deus a trama começa
de pó e tempo e sonho e agonias?

*Omar Khayyamm

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