domingo, 31 de outubro de 2010

Fier Sem Medo

Alô Amigos,



Quem nunca ouviu falar do Conde de Isouard e o Duque de Brunswick? Estes senhores ficaram imortais! Vítimas do gênio de Paul Morphy e a sua mais que brilhante “Partida da Ópera”. Afinal, uma partida de xadrez simplesmente não existe sem dois oponentes. Pena que muitas partidas, principalmente em simultâneas, o adversário é só o “aficcionado”.

Pois bem, tive o privilégio de jogar contra o GM Alexandr Fier, o “no fear”, “a fera”, na quarta-feira, dia 27 de outubro de 2010, um dia histórico para o Clube de Xadrez de Curitiba!

O Fier jogou contra 23 adversários ao todo, entre eles o seu pai, Luciano e vários outros jogadores, alguns veteranos, como o “seu” Luiz Carlos Gomes de 76 anos, outros ainda muito novos, como o Samuel, de 9 anos. Partidas de 1 hora para o simultanista, e 30 minutos para os desafiantes.

O “cara” é mesmo uma fera! Mal olhava as partidas para decidir rapidamente o seu lance. Rapidez incrível de raciocínio e imaginação. Ainda assim, com problemas estomacais, cedeu 4 empates (Murilo, Jorge Ibañez, Carlos Lunelli e o Luciano).

A minha partida foi a segunda a terminar. E de que forma! Eu não temi a sua famosa agressividade enxadrística, resolvendo ter uma luta franca e aberta, com possibilidades táticas. É bem verdade que eu estava um pouco desconcentrado, pois eu queria filmar tudo, ver suas reações, enfim, documentar a exibição histórica.

Confesso que fiquei muito impressionado com a desenvoltura enxadrística do Alexandr, apesar de já conhecê-lo e tê-lo enfrentado, quando ele ainda tinha lá seus 7 anos e outra vez, numa relâmpago, quando ele já era Mestre Internacional de Xadrez.

Muito peculiar foi a felicidade dos vários participantes, por estarem podendo enfrentar um Grande Mestre, que já esteve entre os top 100 do mundo, e tem toda a condição de voltar a este patamar, pois ele tem apenas 22 anos.

Bem, vamos ao que interessa:

Alexandr Fier x Léo Pasqualini de Andrade, simultânea, 27/10/2010

1.d4 d5 2.c4 e6 3.Cf3 Fier e outros GMs preferem variantes sem dar chances ao adversário. 3...Cf6 4.Cc3 c5 Optei por esta antiga variante, arriscada, mas e daí? 5.cxd5 exd5 6.g3 Cc6 7.Bg2 Be7 8.0–0 0–0 9.dxc5 Bxc5 10.Bg5 Be6 Com pouca inspiração, uma variante estranha, para confundir o adversário. Porém, ao que parece, quem se confundiu fui eu. A ideia mais natural me parecia jogar d4. 11.Tc1 Fier ameaçou tomar o cavalo em f6, hesitou e decidiu pelo lance de desenvolvimento, corretamente. 11...Be7 12.Cb5! Escolhendo o melhor plano, bloqueando a casa d4. Eu fiquei um pouco desorientado com este lance, ele andava rapidamente pelos tabuleiros, e quando vi ele já estava de volta, e acabei jogando sem pensar muito. 12...a6? Um erro. Pura perda de tempo. Tc8 era absolutamente natural. 13.Cbd4 Db6?! Lance muito otimista, mas com a falha original que acabou servindo de plano para as brancas alguns lances depois. 14.b3 Fier parece não querer arriscar, ou então guardar o trunfo para quando as negras escolherem a variante definitivamente perdedora. Psicologicamente me deu mais otimismo ... 14...h6?! Pois é, isto ajuda o plano das brancas, enfraquecendo decisivamente o roque negro. 15.Be3! Da5?? De novo, um lance otimista, mas um grave erro que Fier não aproveita imediatamente! As brancas deveriam capturar ou o cavalo de c6 ou o bispo de e6, ambos com excelentes chances para as brancas. 16.a4? Ué, não entendi! Na hora me pareceu que o Fier não estava muito bem, eu atacando e ele se defendendo. Talvez os problemas de estômago estivessem influenciando o jovem GM. 16...Tac8?? Bem, agora sim, o erro decisivo. Talvez o Fier julgasse que eu faria este lance, por ser natural, sem que eu percebesse que ia em cheio de encontro com as ideias dele. 17.Cxe6 fxe6 18.Bh3! Depois deste lance, estou definitivamente perdido. 18...Tcd8 19.Bxe6+ Rh8 20.Ch4! d4 Outro erro, mas a partida já estava decidida para as brancas. Aqui eu imaginei que poderia complicar a vida do simultanista, pois criava uma contra-ameaça, além do que a minha dama poderia ir para a ala do rei rapidamente. Nem imaginava o tamanho da enrascada em que me metia! Fier parecia inspirado. 21.Cg6+ Rh7 22.Dd3!! Não Fier, pensei, o que que ele quer com este lance? Pra que fui perguntar ... 22...dxe3 23.Cxf8+ Rh8 24.Dh7+!! Fier nem piscou para - literalmente - executar os últimos lances. Eu percebi que ele queria que eu tomasse rapidamente a dama, meio que ficou esperando enquanto se dirigia ao tabuleiro ao lado. Fingi que não era comigo e deixei ele ir, enquanto eu ainda estava atordoado, anotando o lance e observando, totalmente incrédulo, o meu cavalo babando para capturar a dama. Enquanto eu já me preparava para que o Fier assinasse a minha planilha, chegou o Disconzi. Quando ele viu a posição, exclamou alto: "o que é isto!!". Só apontei a ele a casa g6, e ele me disse, "voce pode por no seu blog...". Sim, espero que a imortalidade exista, com este sacrifício de dama. 1-0.

Após a partida comentei rapidamente com o Fier, que só me disse que era um plano que ele já havia jogado num pan-americano ...
Jorge Ibañez, Carlos Lunelli, Murilo Gimenez, Alexandr Fier, Acyr Calçado e Luciano Fier
(foto de Marcos Werner)


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Xadrez em Cuba: Livre!

Alô amigos, libertários!!

Na semana passada tive a oportunidade de conhecer o Mestre Internacional de Xadrez, o cubano Gerardo Lebredo.

Figura muito simples e simpática, conversamos muito sobre Xadrez (claro!), Cuba (claro!), política (nem tão claro ...) e tomamos vinho (deixamos as cubas libes de lado ...). O Lebredo não escondeu os segredos da educação de xadrez cubana, até ministrou um curso no CXC para professores.

Posso dizer que foi muito útil o curso. Aprendemos ideias novas, atividades e questões pedagógicas pela ótica do russo Majmutov. Senti apenas a baixíssima presença de professores interessados em se orientar e progredir na arte de ensinar xadrez. Acho até que uma espécie de preconceito continua rondando, com o pensamento do senso comum de que o nobre jogo é apenas para classes sociais privilegiadas ou para pessoas de alto QI. Quanto engano!

Todas aquelas crianças que podem (e devem) começar a aprender xadrez ainda em idades precoces, a partir de 6 ou 7 anos, se desenvolvem intelectualmente, com certeza, como também observou o mestre Lebredo. Ensinar a pensar, obrigar a pensar, eis o grande mérito do jogo de Xadrez!

Lebredo também fez uma palestra, versando sobre seu inesquecível compatriota, o gigante José Raul Capablanca. Muitas fotos desconhecidas para mim, sobre os lugares de Havana, a casa onde morou Capablanca, seu funeral e com seu pai, ainda muito jovem. Lebredo também contou um pouco da história do xadrez em Cuba, desde seus primórdios, a visita do genial Paul Morphy, a Olimpíada de Havana, uma aluna de Capablanca, etc.

A simultânea do Lebredo teve uma abertura insólita: pouco depois de sua apresentação aos participantes, o sócio do Clube de Xadrez de Curitiba, Luiz Carlos Gomes, fez um discurso emocionante. Foi um agradecimento à oportunidade de enfrentar o mestre cubano e de sua presença no nosso clube. E quase que o Lebredo perde a partida para o “seu” Luiz Carlos. A força de vontade deste senhor de 76 anos é impressionante, um grande exemplo para muitos jovens que tem a saúde boa. O senhor Luiz Carlos Gomes saiu emocionado, como um jovenzinho, alegre, feliz, por ter enfrentado o mestre de igual por igual, uma experiência mesmo incrível, de vitalidade. Meus parabéns ao “seu” Luiz Carlos, quero vê-lo nos próximos torneios de xadrez no CXC!

Sobre a sociedade cubana, o Lebredo contou muitas coisas que me deixaram pensando ... Em dado momento perguntaram a ele qual era a profissão mais procurada em Cuba. Ele respondeu que a de médico ainda se destacava, apesar dos baixos salários. Fez até uma comparação, de que o camelô que vende amendoim e outras coisas pode até ganhar mais dinheiro que o médico! Por outro lado, ele mencionou a diferença das atitudes dos médicos de lá com a de outros países “capitalistas”. Por exemplo, os médicos em Cuba, para terem menos trabalho, procuram “realmente” curar o paciente, não “amarrá-lo” como cliente!

Sobre outras profissões, ele mencionou a dos esportistas, como ele próprio, e a dos artistas. Como jogador de xadrez ele já conhece praticamente o mundo inteiro, por ter participado de inúmeros eventos de xadrez, seja acompanhando atletas, seja atuando efetivamente. É bom lembrar que ele tem voltado todo ano para o Brasil. Também é bom lembrar o enorme apoio que Fidel Castro dá ao xadrez, com programa de televisão aos sábados, em um dos horários mais cobiçados da Tv cubana!

Os artistas (principalmente os músicos) são muito respeitados e venerados em Cuba. Aqueles que têm projeção internacional e que ganham muito dinheiro no exterior, estes são “muito ricos” em Cuba!

Um país onde não se nota a miséria, violência, todos tem acesso à saúde, alimentação, teto, apesar das restrições e simplicidade dos mesmos (Lebredo).

Acho que temos muito a aprender sobre o que se passa em Cuba, acho que é necessário passar um tempo lá para entender mesmo as diferenças.

Que tal um banho de mar em uma das mais belas praias caribenhas, a de Varadero??

Lebredo, ouvindo atentamente o sr. Luiz Carlos

domingo, 17 de outubro de 2010

Olimpíada de Xadrez

Olá amigos,

Terminou recentemente a 39ª Olimpíada de Xadrez em Khanty-Mansiysk.


Mais uma vez, uma festa impressionante. A nata do xadrez mundial estava lá, com pouquíssimas exceções.

Está aí uma coisa da qual sinto inveja, de nunca ter ido a uma, pelo menos para passear.

Lembro de relatos, dos mestres Hélder Câmara, Rodrigo Disconzi e Aron Corrêa, entre outros, sobre suas participações. Em 2004, o amigo Ivan Nogueira me trouxe uma camiseta de recordação (Calviá).

Uma abertura e encerramento muito bonitos, um espetáculo, como alias, acontece nos Jogos Olímpicos e na Copa do Mundo.

Lamento que a divulgação de eventos de xadrez, ao menos no Brasil, seja praticamente nula. Por que será que a mídia não divulga? Faltam patrocinadores?

Infelizmente, tem que aparecer um novo Bobby Fischer para sacudir o mundo, novamente. Naquela época, nunca se vendeu tantos jogos de peças e livros de xadrez. Fischer recusou ser garoto propaganda de diversas marcas. Pouco à pouco, principalmente com a saída de Kasparov do “olimpo” das competições, de novo o ostracismo.

O trabalho que tem sido feito pelos atuais dirigentes de federações e clubes no Brasil ainda é muito amador. Aqui no Clube de Xadrez de Curitiba, estamos tentando mudar um pouco esta “síndrome de viralatas”. Brigamos muito para reaparecer na mídia e já começam a aparecer novos ares (“sopros”) de exposição.

Devemos reconhecer que o trabalho feito pela CBX está surtindo algum efeito. É inegável o resultado obtido pela equipe brasileira (17º!), o melhor até agora em 39 edições.

Menos pés, mais cérebro.