quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Xadrez e Reabilitação Neuropsicológica


(ilustração: "Neurônio" - Bruna Paciornik - EIBSG)

Amigos,

Cada vez mais o Xadrez tem sido usado como ferramenta de desenvolvimento e de reabilitação, de crianças e adultos, em questões neuropsicológicas.

Pesquisando no site de publicações científicas, PUBMED, descobri dois trabalhos da pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da USP, a Priscila Dib. Seus artigos se referem a buscas de alternativas de reabilitação neuropsicológica das Funções Executivas (FE). Parte nobre de nosso cérebro, o cortéx pré-frontal, local de redes neuronais que, segundo importantes pesquisadores (Lezak, Miyake, Diamond), é responsável por, principalmente, Volição, Planejamento, Flexibilidade, Inibição e Memória de Trabalho, as chamadas FE.

A Metacognição, onde o paciente verbaliza consigo mesmo (com ajuda de intervenções por parte do terapeuta) as estratégias e caminhos de suas ações, para que ele próprio tenha consciência de suas atitudes e seja o protagonista de suas mudanças, é inerente ao próprio aprendizado e desenvolvimento das habilidades no Jogo de Xadrez. Por que não usar desta técnica em reabilitação, fazer com que o paciente compreenda suas próprias decisões, estratégias?

Segundo a pesquisadora, “os jogos podem promover e exercer grandes mudanças em seus participantes, fazendo associações com a vida real e não com experiências ou materiais artificiais”. A interação com adversários faz com que não apenas o cognitivo seja estimulado, mas também em aspectos subjetivos – as nossas emoções.

Os primeiros resultados destas pesquisas usando o Jogo de Xadrez, com dependentes de substâncias (cocaína) mostrou melhora na Memória de Trabalho e Inibição (impulsividade).

Novos estudos precisam ser realizados para comprovar esta nova ferramenta da neuropsicologia, o Xadrez!

Próximo post: continuação sobre as pesquisas no Instituto de Psiquiatria da USP – IPq FMUSP

Para aprender Neusopsicologia: CDN - Unifesp


Referências: Neuropsychological Rehabilitation of Executive Functions: Challenges and Perspectives; Priscila Dib Gonçalves, Mariella Onetto, Gabriela Sendoya, Cristine Lacet, Luciana Monteiro, Paulo Jannuzzi Cunha; Journal of Behavioral and Brain Sience, 2014; 




quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Neurociências e o Xadrez

Amigos,
As pesquisas com neurociências vem avançando muito. Estudos de neuro-imagem, ressonância magnética, são recentes. E os dados das pesquisas sobre o desenvolvimento cerebral ainda estão evoluindo.
Ao nascer, o ser humano já nasce com uma quantidade de neurônios maior do que quando terá em uma idade adulta. Até os 2 anos de vida, atingimos nossa capacidade máxima de densidade neuronal no lobo frontal, depois ela vai diminuindo.  A redução no número de sinapses no lobo frontal pode representar um “refinamento qualitativo” na capacidade funcional dos neurônios.
Porém, o importante é o que acontece com os neurônios neste momento: suas conexões, o crescimento da arborização (dendritos) e suas ligações axônicas. Posteriormente, com a conexão de neurônios mais distantes fisicamente entre si, a mielinização.
Esta fase importantíssima é a do seu desenvolvimento, da linguagem, do sistema motor.  As interferências Culturais e Ambientais estão diretamente ligadas ao comportamento. Uma boa alimentação, um bom ambiente familiar, mas também estímulos cognitivos são fatores determinantes.
O período de maior desenvolvimento das Funções Executivas, aquelas responsáveis por planejamento, inibição, flexibilidade e a memória de trabalho está entre os 6 e 8 anos de idade. Aos 10 anos elas já conseguem atingir o nível dos adultos quanto a performance em testes (Wisconsin), mas no teste de fluência verbal só o conseguem aos 17, 18 anos. Aos 14 anos os lobos frontais se desenvolvem de forma estável até os 45 anos, mas ainda em pleno desenvolvimento!
O desenvolvimento da linguagem participa em muitos processos mentais elevados, como o do planejamento, resolução de problemas, abstração. A linguagem será a grande intermediadora nas habilidades cognitivas.
Estimular a criança no desenvolvimento dessas Funções Executivas (FE) é o alvo que devemos prestar atenção.  Muitos trabalhos estão sendo feitos em estimular as FE, e uma das ferramentas importantes é o Xadrez.
Se formos pensar a respeito, planejamento e flexibilidade, a inibição de nossos impulsos em fazer jogadas precipitadas e a enorme utilização de nossa memória de trabalho para a “visualização” e a comparação de inúmeras variantes são essenciais para se jogar bem Xadrez. Recomendo a leitura do livro “Uma Questão de Caráter”, de Paul Tough, que traz um capítulo inteiro sobre o uso do Xadrez nas escolas dos Estados Unidos.

A plasticidade do cérebro, ou seja, a sua capacidade de se modificar e reorganizar, é para a vida toda. Desenvolvimento e Maturação; Aprendizado e Memória; Reabilitação Neuropsicológica devido a lesões; em todos estes casos, é possível utilizarmos da ferramenta Xadrez, desde que se tenha um objetivo a ser alcançado e usá-lo de maneira adequada, estimulando de forma positiva com experiências enriquecedoras.
Quando temos que tomar decisões, criar vínculos, empatia, inibir a satisfação imediata das nossas vontades, estamos falando das Funções Executivas “quentes”, aquelas que envolvem as emoções (lobo frontal conectado com o núcleo caudado e amigdala), onde as consequências das decisões que tomamos aparecem. No jogo de xadrez, as consequências de nossas decisões aparecem ao final da partida; decisões tomadas sem uma análise cuidadosa podem gerar a perda da partida, deixando o jogador frustrado.
Treinar uma criança com problemas de xeque-mate em 1 lance, por exemplo, estamos exercitando puramente o cognitivo, a análise, a busca, a flexibilização de ideias. Porém, quando se joga uma partida e se coloca em prática o que se aprende, é posta à prova as emoções, as decisões influenciadas por sentimentos. As consequências não demoram à acontecer!
Vou continuar com o tema Reabilitação Cognitiva no próximo post.

Até lá!