quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O Xadrez e a Neurologia

Amigos,

(Kasparov e esposa e o dr. Ítalo Venturelli)


Terminou o Grand Slam de Xadrez São Paulo-Bilbao (parabéns aos organizadores, GM Milos e ao incansável Davi D'Israel) com a vitória do Magnus Carlsen! Torciamos para o Ivanchuck, mas acredito que o resultado foi justo pela perseverança do jovem noruegues. (Hilária cobertura no blog do Disconzi).

Aí lembrei do Esporte Espetacular que fez uma matéria com o Carlsen (veja Vida em Miniatura), sobre os super-humanos, e as novas fronteiras do cérebro.

Para quem pretende dar aulas de xadrez, taí um tema a ser estudado e entendido! A neurologia e as outras ciências derivadas dela, como a neuropsicologia, tem avançado muito sobre os benefícios de se treinar o cérebro. E qual melhor treinador que não o nosso nobre jogo de xadrez? Ou alguém duvida que o xadrez não use os diversos elos cerebrais (e quando falo isso, quero dizer desde as partes específicas, como córtex, amigdala, hipotálomo, lóbulo, como também as comunicações químicas e nervosas de transmissão e processamento de informações). Quando jogamos xadrez, não estamos fazendo cálculos, abstraindo posições, imaginando lances, analisando, deduzindo, comparando, tomando decisões? 

O nosso cérebro é como um gigantesco computador, com todos os seus periféricos, cabos de comunicação, interfaces, processando informações o tempo todo, buscando arquivos na memória, calculando, distribuindo, comunicando. Por isso o xadrez é sempre utilizado para testes com sistemas de Inteligencia Artificial. 

Um detalhe da matéria me chamou a atenção: Magnus, o super-humano, estaria usando outras áreas cerebrais quando joga xadrez, o que o diferencia da imensa maioria!



"A área de associação cerebral, localizada na região parietal esquerda do nosso cérebro, recebe as informações percebidas pelo nosso aparelho sensorial, e após coordena-las, e associa-las, da um sentido a elas, reconhecendo uma nova razão lógica, tranformando informações, em conhecimento." (Ítalo Venturelli)




Lembrando, porém, que isto só se consegue com o treinamento intensivo do profissional de xadrez!

Bem, eu recomendo uma leitura muito interessante, "O Erro de Descartes", de Antonio Damasio, como uma introdução ao estudo desta fascinante viagem sobre esta organização cerebral. O livro pode ser polêmico, mas, como eu disse, temos que estudar, ler muito, para entender um pouquinho do que se passa no nosso cérebro, para justamente, podermos ajudá-lo logo adiante.

E, claro, que passem a se interessar e ouvir mais quem realmente entende do assunto, como o doutor Ítalo Venturelli, que deu um verdadeiro show no "I Seminário de Xadrez Escolar", sabiamente oferecido pela PMSP, com o grupo da XME (Xadrez Movimento Educativo). E quem poderia apoiar mais tal evento, senão um cara chamado Garry Kasparov?


Vejam que linda imagem: as crianças das escolas da PMSP entrevistando o dr. Ítalo Venturelli com um cérebro de verdade nas mãos! Que efeitos motivadores não teriam ocorrido neste momento para as crianças ali presentes?

COM A PALAVRA, O DR. ÍTALO:
(em conversa com a jornalista Mayra Maldjian)

Faço estas palestras há muitos anos, gratuitamente, pois acredito que o xadrez é um excelente recurso pedagógico. 
Quando dei aulas de pós graduação em psicopedagogia, pude comprovar este recurso. 
Em SP, já há muitos anos, participo da formação dos professores de xadrez , das escolas publicas . 
É um trabalho super gratificante, pois vemos a melhora da capacidade de concentração e atenção das crianças. 

Digo que se transformam em pequenos detetives, pois ficam mais atentos a tudo que se passa. 
Ano passado dei palestras para os professores do colégio e cursinho Anglo, pois o xadrez será colocado como matéria para o pessoal que irá prestar vestibular. 
Dizemos que "com o xadrez o homem se acostuma a raciocinar sobre pressão", que é a grande questão do homem moderno. 

Como trabalho junto ao Dr Jorge Forbes no IPLA( Instituto da psicanalise Lacaniana). aproveito os recursos da psicanálise para aplica-los junto aos alunos, professores, e nas palestras.

O processo de aprendizagem acontece como se fosse uma equação matemática, onde tudo se inicia quando conseguimos despertar a atenção das crianças. Quando conseguimos isto, por determinado tempo, provavelmente ela irá se concentrar. Daí o processo vai se desenrolando, com a passagem das informações para as áreas da memória e para as áreas de associações, desenvolvendo-se assim os chamados padrões cognitivos. Esta transformação das informações ocorre quando conseguimos mostrar a razão pela qual uma informação se coordena com outra. Estes novos padrões cognitivos de conhecimento serão os facilitadores para a transformação de novas informações. Neste instante poderá acontecer a maravilha das maravilhas, o qual nosso cérebro é mestre: o milagre chamado "Dedução". O eletron que salta. Um novo conhecimento. Muito além da soma das informações anteriores. Algo novo; sensacional. A energia advinda do conhecimento, que para muitos, é o maior prazer que um ser humano pode sentir. 
Todas as áreas do cérebro são estimuladas com as atividades intelectuais. No caso do Xadrez, trata-se de atividade intelectual de alto nível, pois requer análise, cálculo, deduções, e muito controle emocional. Para se tornar um bom jogador, é necessário disciplina e muito estudo. No Brasil temos excelentes jogadores, como o famoso Mequinho e atualmente o Geovanni Vescovi como exemplos. 
O homem moderno perdeu sua bússola. É o que o grande psicanalista brasileiro Dr Jorge Forbes chama de " o Homem Desbussolado". Vivemos novos dias e uma nova ordem social. Utilizando estas orientações para o jogo de xadrez, percebemos que ao jogarmos, temos que coordenar as peças do tabuleiro como muitas das atividades da vida. Todos estamos sujeitos a termos que tomar decisões cada vez mais rapidamente. Em varias situações estamos ligados a varias questões acontecendo simultaneamente. Com a utilização do jogo de xadrez, as crianças e adolescentes se acostumam a permanecer raciocinando por um tempo mais prolongado. O uso do relógio que é utilizado durante os jogos ajudam neste treino.Poucas são as pessoas que conseguem continuar raciocinando, quando estão pressionados, ou quando estão com fome, com pressa ou com medo. Acontece o famoso " deu branco ". Termo comum entre os vestibulandos. 
Em alguns cursinhos preparatórios para o vestibular esta sendo estudado o uso do xadrez. 
Os estímulos advindos das atividades intelectuais funcionam muito bem em qualquer idade. Até na terceira idade. 

Temos varias historias de jogadores de xadrez, que jogam muito bem até em idade bem avançada. 
A questão dos adolescentes é a área de interesse. Os homens, permanecem interessados em competições mais avidamente do que as mulheres, por questões psíquicas e biológicas. 
Com os conhecimentos advindos das novas tecnologias, como a chamada ressonância funcional, percebemos algumas diferenças no funcionamento do cérebro do homem e da mulher. 
Como disse estamos aprendendo com as novas técnicas diagnosticas, e ao que parece, enquanto um garoto joga um "game" , em seu cérebro ativam-se áreas relacionadas ao prazer, diferentemente da mulher, onde se ativam as áreas da fala. Outro fato interessamente diz respeito a localização espacial , onde o homem se orienta espacialmente por imagens cartográficas, e a mulher por objetos referencias. 
Regiões interessantes de serem evidenciadas, são as áreas de associação, localizadas na região parietal esquerda.  

Acho que seria legal a imagem de um tabuleiro refletido, a partir de um cérebro, em direção e contato com uma tela de computador, pois é lá que o jovem vai jogar, para ficar plugado com sua rede, que é onde ele mantém um contato horizontal, nesta nova orientação social. 
Quer um tabuleiro melhor que uma rave ? Impossível !!!


PARA SABER MAIS SOBRE O CÉREBRO:   BLOG DA ANNE

OBS - Fotos gentilmente cedidas pelo dr. Ítalo, com créditos para o GM Giovanni Vescovi.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A Maior lição do mestre Ivanchuck

Amigos,

O Grand Slam de Xadrez realizado semana passada em São Paulo, foi sem dúvida o maior evento de xadrez já realizado no Brasil (que me desculpem sobre os Interzonais de 1973 e 1979 no Rio de Janeiro e as taças Cidade de São Paulo em 1978, 1979 e 1980 - esta última com a presença de Victor Korchnoi).
Desta vez, tive que reprimir meus sentimentos, não fui ao parque do Ibirapuera! Nem sempre podemos realizar todos os nossos sonhos ... mas torço para que no ano que vem, a prefeitura de São Paulo e a cidade de Bilbao presenteiem novamente os enxadristas brasileiros (e por que não, sulamericanos) com este vultuoso evento!
Ouvi pela internet os comentários do GM Gilberto Milos e do simpaticíssimo Leontxo Garcia. Leontxo, em entrevista para a "RTVE Espanha" (não deixem de ouvir esta entrevista, muito boa), noticiou o grande público que se apresentou para prestigiar o evento e a excelente divulgação da mídia. Em seus comentários, diz para que os espanhóis visitem o Brasil, de leste a oeste, de norte a sul, pois se trata de um lindo país!! Comentou também das desigualdades sociais, como infelizmente ocorrem em toda a América Latina, e que no Brasil diminuíram com o governo de FHC e principalmente de Lula! E que São Paulo é a segunda cidade do mundo com maior tráfego de helicópteros, e que os ricos vão às compras em Shoppings que tenham heliportos ... A visita do GM espanhol Paco-Vallejo a uma escola pobre na periferia de São Paulo, a convite do prefeito Kassab, levou palavras que emocionaram até os organizadores. Crianças que não tem video-games, computadores e outros eletrônicos em casa, se sentem motivadas a irem à escola pela possibilidade, entre outras, de ter aulas de xadrez.

A primeira fase do torneio foi vencida com brilhantismo pelo ucraniano Vassily Ivanchuck. Que lutador criativo! Avoado, mas um gênio!
O ponto baixo veio depois de encerrado o evento: Ivanchuck e sua esposa foram roubados a 20 metros da porta do hotel em que estavam hospedados, quando se dirigiam para pegar um táxi que os levaria para o aeroporto.
Felizmente, poucas coisas importantes ou valiosas foram levadas. Eis as palavras geniais do Chuck, para Chess Vibes, que me fizeram admirá-lo ainda mais e que me fizeram desejar o seu sucesso em Bilbao - serei seu fã daqui pra frente:


"
The most valuable thing for me was my chess set, not in terms of money but in terms of some sort of… I’ve used that chess set for many, many years. I’ve even got a wish: perhaps that chess set can somehow fall into the hands of an intelligent child, and thanks to some sort of magical properties it’ll help that child to become a famous chess player.
 "

"A coisa mais valiosa para mim era o meu jogo de peças, não em termos de dinheiro, porém em termos de sorte ... eu usei estas peças durante muitos, muitos anos. Eu espero talvez estas peças possam cair nas mãos de uma criança inteligente, que leve a ela as propriedades mágicas que me ajudou desde criança a me tornar um famoso jogador de xadrez".

Boa sorte, Chuck!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Kasparov e o I Seminário de Xadrez Escolar

Amigos,

Sem a menor dúvida, o I Seminário de Xadrez Escolar da Prefeitura Municipal de São Paulo foi um grande evento sobre Xadrez e que aconteceu entre os dias 2 e 3 de setembro. Mais de 700 professores, quatro palestras de altíssimo nível com renomados protagonistas. Ainda com a presença do prefeito de SP, Gilberto Kassab, e o secretário da Educação, Alexandre Schneider e o Grande Mestre, Giovanni Vescovi.
Mas, claro, ele também estava lá: Garry Kasparov! Ouviu o hino Nacional Brasileiro, discursou, e jogou uma simultânea contra 20 alunos, com muito vigor. Uma aula! Não facilitou em momento algum, jogou como sempre, muito sério e concentrado, ensinando que devemos levar a nossa profissão a sério sempre, sem vacilar. Afinal, senão ele não seria Kasparov!

Então, vamos tentar descrever um pouco deste inesquecível evento. Muito bem organizado, e quero aqui deixar meus agradecimentos ao Egnon, a Sandra e a professora Eugênia. Peço desculpas pela baixa qualidade dos vídeos, pois eu estava longe e com o zoom da câmera, era inevitável a imagem balançar um pouco. O som também deixa a desejar. Bem, não fui preparado para isto, apenas quero tentar deixar este testemunho para quem não pode participar.

Da estação do metrô Tietê, lá estavam os micro ônibus que nos transportaram até o Anhembi. Conhei o professor Mario, que ficou encantado com o xadrez e nos fez diversas perguntas.
No Anhembi fomos recebidos com o material (crachás, blocos de notas, canetas e pasta alusiva ao evento) e um belo café da manhã.

Um coral recebeu os seminaristas. Seguem os dois vídeos abaixo:







Logo após, tivemos a execução do Hino Nacional Brasileiro. Kasparov ouviu atentamente:




Depois do discurso do Kassab, desejando muita sorte aos simultanistas, Kasparov fez seu discurso:




A primeira palestra foi do professor doutor Antonio Villar Marques de Sá, que contou um pouco de como fez seu doutorado em Paris, trabalhando primeiramente como garçon. Para minha surpresa, em meio a sua palestra, ele colocou um slide com a capa do meu vídeo, "Uma Aventura no Reino do Xadrez". Os amigos próximos de mim no momento (Edmundo, Rosa) me apontaram dizendo que eu estava ali na platéia. Confesso que estava muito envaidecido e orgulhoso, de alguma forma estava contribuindo para o evento.



Aliás, devo ao Villar mais um autógrafo do Kasparov, desta vez no livro "Xeque-Mate". O Villar só conseguiu por muita perseverança, o "Ogro de Baku" se esgueirava fugindo de todos (com o seu "segurança" Giovanni Vescovi, que não permitia o assédio ao ex-campeão, dizendo que ele queria voltar logo ao hotel). O Villar conseguiu o autógrafo já com o Kasparov dentro do carro ...


A palestra do Villar contou muito da história do xadrez, dos trabalhos científicos que tem sido registrado, das cartilhas, enfim, dos diversos esforços de se implantar o xadrez nas escolas brasileiras (o Villar foi o palestrante em Curitiba em 1993, no Congresso da FIDE e escreveu para a revista Preto & Branco uma série de artigos que tiveram grande repercussão no Brasil sobre Xadrez Escolar).

Em seguida, a palestra do Dr. Ítalo Venturelli, excelente, arrancando por diversas vezes gargalhadas da platéia, falando sobre os transtornos de deficite de atenção e hiperatividade, dos benefícios do xadrez no desenvolvimento do raciocínio, um pouco sobre neurologia e até trouxe um cérebro para mostrar.









Finalmente, veio a esperada exibição de Kasparov.















 Infelizmente, minha máquina esgotou a memória ao final da simultânea, e eu não tinha como descarregar os vídeos, não podendo gravar as pelestras do Jaime Sunye e do Uvencio Blanco, no dia seguinte.

Mas posso contar que a palestra do Sunye mostrou ao público os dados da trajetória do projeto de xadrez no Paraná; o projeto piloto, seus erros e acertos; as implementações, como por exemplo com a área de informática da UFPR; ao final respondeu inúmeras perguntas sobre os mais diversos temas, inclusive do encerramento da carreira de jogador de xadrez. Lembrando, o Jaime também contou um pouco do doutorado do Wilson da Silva e sua tese de mais de 400 páginas (!) sendo um dos maiores trabalhos feitos sobre xadrez no Brasil, e também contou um pouco sobre os seus projetos com o MEC. Importante para quem almeja realizar um projeto sobre xadrez!

A última palestra foi do Uvencio Blanco, que abordou o xadrez escolar dentro da FIDE. As prioridades iniciadas e desenvolvidas com o xadrez escolar, os congressos, os planos para o futuro. Com muito senso de humor, perguntou à plateia: por que mulheres não gostam muito de jogar xadrez? "Ora, durante a partida a regra manda que fiquemos quietos!"  O Uvencio é venezuelano, e foi inevitável uma pergunta sobre o Hugo Chaves. A resposta, de que Chves teria se recusado a jogar uma simultânea, mas que depois, quando passou a ser governo, deu a missão aos seus ministros de que implantassem o xadrez nas escolas!

Bem, um evento grandioso, importante, um marco para a retomada do xadrez escolar no Brasil.

Uma pergunta ficou do início ao fim do seminário: quem joga xadrez fica inteligente ou já é inteligente quem joga xadrez? A questão fica para um próximo seminário ...



quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Em Sampa, mais uma vez!

Caros Amigos,



E lá vou eu até a minha São Paulo ... vou para o I Seminário de Xadrez Escolar, da Secretaria Municipal de Educação, do projeto XME (Xadrez Movimento Educativo).
Vou reencontrar o mestre Antonio Villar, que tive o prazer de conhecer no RJ em 2000, no simpósio que participamos da UERJ sobre xadrez.
Também vai estar palestrando o Jaime Sunye, o Uvencio Blanco. Eu estou muito interessado na palestra do Ítalo Venturelli, que tem como tema "Benefícios do Ensino de Xadrez para Formação Intelectual e Neurológica da Criança". Tenho lido muito sobre neuropsicologia, acredito ser uma área que tem que ser explorada melhor.
Porém, a grande atração é mesmo o Gary Kasparov! Um dos maiores campeões de xadrez de todos os tempos! O "Ogro de Baku" (seria esta ma nova peça de xadrez?) tem sua história cravada no tabuleiro. Poucos reis conseguiram sobreviver diante de sua fúria tática, de seu estilo dinâmico e empreendedor.
Assim que eu estiver de volta, coloco minhas impressões, fotos e vídeos.
Mais um momento histórico para o xadrez brasileiro.
E um abraço ao poeta Ivan, que voltou aos tabuleiros do Clube de Xadrez de Curitiba, me massacrando de forma avassaladora. Vai ter revanche!!


sexta-feira, 17 de junho de 2011

A Carta de Emanuel Lasker

Alô amigos!

O sócio Justo Reinaldo Chemin deu um presente ao CXC: a restauração de uma carta, encontrada no clube pelo Marcio Vargas, do então campeão mundial de Xadrez, o gigante Emanuel Lasker!
De valor histórico singular, é uma carta que Lasker enviou com papel timbrado do Brooklyn Chess Club. A data, de 23 de setembro de 1907!!
Lasker endereçou a carta a Alexandre Haas, um dos fundadores do Clube de Xadrez São Paulo. Dizia da possibilidade de sua vinda à América do Sul em 1908 ou 1909.
O documento histórico agora está devidamente preservado e guardado no Clube de Xadrez de Curitiba.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Xadrez às Cegas

Para quem pensa que xadrez é um jogo muito difícil, saibam que tem um grupo que sempre participa de torneios, que as pessoas me perguntam, como é que conseguem?
Trata-se dos Deficientes Visuais, uma turma com nenhuma ou pouca visão, que jogam xadrez de igual para igual em torneios.
Várias professoras e psicólogas que sabem que dou aulas para o pessoal deficiente visual da ABASC (Associação Batista de Ação Social de Curitiba) têm me perguntado a respeito. Dizem, “mas como é que você faz? Deve ser bem difícil! Você precisa divulgar e nos mostrar como é que funciona!”
Bem, é bem mais simples do que possa parecer.
Eles têm um tabuleiro especial de xadrez, onde as casa em relevo são as “brancas” e as casas rasas são as “pretas”. As peças são iguais aos demais jogos, com a diferença que as peças pretas têm uma “ponta” (como se fosse uma cabeça de alfinete) em cima delas, que servem para distinguir as cores.
Mostrei a partida entre Morphy e aficcionado, jogada em Nova Orleans, 1858, simultânea (seis partidas) e às cegas. Eles ficaram muito impressionados. Acredito que foi uma motivação extra poder conhecer tão brilhante partida (ver Xadrez Romântico, post de abril).
Outras partidas com sacrifícios e jogadas geniais também faz a alegria desta turma. No xadrez, podemos “sentir” as obras de arte ...

Conversamos bastante durante a aula, questiono-os da mesma forma como qualquer outro aluno (O que vocês fariam aqui? Por quê este lance? Qual o plano? Descubram o xeque-mate em 2 lances! Etc.). Eu vou dizendo os lances, e eles reproduzem sobre o tabuleiro.
São determinados, aplicados, estudiosos, questionadores; e, principalmente, alegres, dispostos, felizes!
No sábado, 21 de maio, quando cheguei para a aula, eles estavam disputando uma partida.

Vejamos:

Everson x Irimar 1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Ac4 Cf6 4.Cc3 Ac5 5.d3 0–0 6.Cd5 Cg4 7.0–0 d6 8.h3 Cf6 9.Ag5 h6 10.Axf6 gxf6 11.Ch4 a6 12.Dh5 b5 13.Ce7+ Dxe7 14.Dg6+ Rh8 15.Dxh6+ Rg8 16.Cg6 bxc4 17.Dh8# 1–0



Irmar x Everson


Pretendo filmar uma das próximas aulas para ilustrar melhor como funciona. Por enquanto, fica este brevíssimo relato de exemplo de vida.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Xadrez Romântico

XADREZ ROMÂNTICO

Palestra realizada no Clube de Xadrez de Curitiba
20 de abril de 2011
Dedico o texto à memória de meu pai, Léo, que faria aniversário hoje
E as paixões de minha vida

            O Estilo romântico é o estilo de uma época. O amor romântico é uma expressão que pode soar piegas fora do contexto. Mas, quando se refere ao Romantismo, sugere um amor tão intenso que Alfred Musset, outra personalidade da época, o proclamava uma “lei celeste tão potente e tão incompreensível quanto aquela que ergue o sol no firmamento”.
Um amor tão grande, de fato, que não cabe no mundo. E por isso muitos heróis e heroínas (para não falar dos próprios poetas) românticos morrem de amor, e muito jovens. Ao mesmo tempo, um amor superior a tudo, inclusive aos preconceitos sociais. E que, também por isso, por enfrentar forças poderosas, frequentemente encontra como desfecho a tragédia. Nas tragédias gregas antigas, o embate desigual e impossível de ser vencido contra os deuses torna o protagonista um herói.
            O período era de muitas revoltas populares na Europa, reunindo intelectuais, estudantes, o povo pobre e trabalhadores contra o poder e os privilégios dos abastados. Tendo por base esses episódios, em 1848, Karl Marx escreveria “O Manifesto do Partido Comunista”. De fato, nada mais romântico do que a era das revoluções populares do século XIX. Era típico do Romantismo ser contestador, rebelde ... e até mesmo revolucionário – nosso Castro Alves foi um ardoroso abolicionista e republicano, e Alexandre Dumas Filho militou contra as desigualdades sociais e injustiças praticadas contra mulheres e crianças.
            No Xadrez, é um período marcado pelos ataques espetaculares, combinações brilhantes, e o único objetivo era o xeque-mate.
            Um dos gênios da época, sem nenhuma dúvida, foi Adolf Anderssen. São famosas as suas partidas, “Imortal” e a “Sempreviva”.

Andersen x Kieseritzky (Imortal)
London 'Immortal game' London, 1851
 1.e4 e5 2.f4 exf4 3.Ac4 Dh4+ 4.Rf1 b5 5.Axb5 Cf6 6.Cf3 Dh6 7.d3 Ch5 8.Ch4 Dg5 9.Cf5 c6 10.g4 Cf6 11.Tg1 cxb5 12.h4 Dg6 13.h5 Dg5 14.Df3 Cg8 15.Axf4 Df6 16.Cc3 Ac5 17.Cd5 Dxb2 18.Ad6 Axg1 19.e5 Dxa1+ 20.Re2 Ca6 21.Cxg7+ Rd8 22.Df6+ Cxf6 23.Ae7# 1–0

Andersen x Dufresne (Sempre-Viva)
Berlin 'Evergreen' Berlin, 1852
 1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Ac4 Ac5 4.b4 Axb4 5.c3 Aa5 6.d4 exd4 7.0–0 d3 8.Db3 Df6 9.e5 Dg6 10.Te1 Cge7 11.Aa3 b5 12.Dxb5 Tb8 13.Da4 Ab6 14.Cbd2 Ab7 15.Ce4 Df5 16.Axd3 Dh5 17.Cf6+ gxf6 18.exf6 Tg8 19.Tad1 Dxf3 20.Txe7+ Cxe7 21.Dxd7+ Rxd7 22.Af5+ Re8 23.Ad7+ Rf8 24.Axe7# 1–0

            A partida que segue abaixo foi uma das primeiras que conheci, lá pelos meus 15 anos. Eu ia no dentista, onde ficavam à disposição várias revistas “Manchete”. Eu fazia questão de sempre olhar a revista, até que um dia levei aquela página comigo! Ela está colada em um caderno com outros muitos recortes de jornais e revistas que me ensinaram a gostar de xadrez.

(da revista Manchete)
Todos nós sabemos como é difícil jogar uma partida às cegas, mesmo contra um adversário que, em condições de igualdade seria fatalmente derrotado. Imagine, agora, o esforço necessário para se jogar contra seis tabuleiros de uma vez! A partida em questão pertence à simultânea às cegas que Paul Morphy deu em Nova Orleãs (1858) contra seis aficcionados. Uma partida que, mesmo se tivesse sido disputada normalmente, contra um único adversário, poderia figurar na antologia das inesquecíveis.
Morphy,Paul - Aficcionado [C52]
simultânea Home, 1858
1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bc4 Bc5 4.b4 Bxb4 5.c3 Ba5 6.d4 exd4 7.0–0 dxc3 8.Ba3 d6 9.Db3 Ch6 10.Cxc3 Bxc3 11.Dxc3 0–0 12.Tad1 Cg4 13.h3 Cge5 14.Cxe5 Cxe5 15.Be2! f5 16.f4 Cc6 17.Bc4+ Rh8 18.Bb2 De7 19.Tde1 Tf6 20.exf5 Df8 21.Te8 brilhante! Início de uma combinação típica do estilo e do gênio do estilo de Morphy e de outros mestres da idade de ouro. Dxe8 22.Dxf6 De7 23.Dxg7+! Dxg7 24.f6!! Dxg2+ 25.Rxg2 1–0

BIBLIOGRAFIA
Luiz Antônio Aguiar (em A Dama das Camélias).
Revista Manchete, Valério Andrade

Vídeo da Palestra:

sexta-feira, 11 de março de 2011

Brasileiro Amador 2011

Olá amigos!


                São Paulo da garoa. Assim foi o Campeonato Brasileiro Amador 2011! Todos os dias aquela chuva fininha caia enquanto eu caminhava para o centenário Clube de Xadrez São Paulo, que, posso dizer, já foi minha casa. No fim dos anos 80 início dos 90, eu era conselheiro e freqüentador assíduo.
                Reencontrei velhos amigos que ali passaram, como o MI Helder Câmara, o Carlinhos Solis, o MI Antonio Carlos Resende, o Rosinha, o professor João Braga, que está organizando um torneio em abril com 10 mil reais para o campeão, entre tantos outros.
                Foi um torneio agradável. Pude conversar com o Ricardo Lísias, finalista do premio Jabuti de Literatura de 2010, vencido pelo Chico Buarque, sobre o seu “Livro dos Mandarins”. Eu acertei em cheio sobre o banco ali parodiado; afinal trabalhei nele. Não vale a pena nem mencionar o nome.
                Também conversei bastante com o rioclarense Alessandro Batezelli e o diretor do CXSP, Edu.
                Joguei bastante concentrado, mas cansei rápido. Ainda assim tive 3 vitórias, 2 empates e duas derrotas. Sendo que uma das derrotas foi (novamente) para o campeão, o Nery Jr e a outra para o 4º colocado, Victor Moura, onde ganhei um peão na abertura e me torturei achando que o cara tinha preparado uma armadilha! Joguei muito mal – e ele também – mas o final ele acertou todos os lances, jogou muito bem.

Seguem algumas fotos:


Janine Martinez e eu: empate


O Campeão, Nery Jr.

A escola que estudei, a "Caetano de Campos"

O centenário Clube de Xadrez São Paulo

Seguem algumas posições interessantes das minhas partidas:

Your Generated Chess Board
Léo x Nery Jr (2ª Rodada)

23... Nxe3? (23... Kxg7=) 24.Rxc8 Qxc8 25. Qa1 Nxf1 26. Bh6 f6 27. Qxf1 (27. Qa2+ e6 28. Kxf1 Kf7+=) 27... Kf7
28. Qc1 ? (e aqui perdi a vantagem e a partida ...).

Your Generated Chess Board
Hermes da Silva x Léo


13. Bxg7?? Bxf3 14.Df4 Rxg7 ( 0-1)


Abraços!!
Léo