quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O Xadrez e a Neurologia

Amigos,

(Kasparov e esposa e o dr. Ítalo Venturelli)


Terminou o Grand Slam de Xadrez São Paulo-Bilbao (parabéns aos organizadores, GM Milos e ao incansável Davi D'Israel) com a vitória do Magnus Carlsen! Torciamos para o Ivanchuck, mas acredito que o resultado foi justo pela perseverança do jovem noruegues. (Hilária cobertura no blog do Disconzi).

Aí lembrei do Esporte Espetacular que fez uma matéria com o Carlsen (veja Vida em Miniatura), sobre os super-humanos, e as novas fronteiras do cérebro.

Para quem pretende dar aulas de xadrez, taí um tema a ser estudado e entendido! A neurologia e as outras ciências derivadas dela, como a neuropsicologia, tem avançado muito sobre os benefícios de se treinar o cérebro. E qual melhor treinador que não o nosso nobre jogo de xadrez? Ou alguém duvida que o xadrez não use os diversos elos cerebrais (e quando falo isso, quero dizer desde as partes específicas, como córtex, amigdala, hipotálomo, lóbulo, como também as comunicações químicas e nervosas de transmissão e processamento de informações). Quando jogamos xadrez, não estamos fazendo cálculos, abstraindo posições, imaginando lances, analisando, deduzindo, comparando, tomando decisões? 

O nosso cérebro é como um gigantesco computador, com todos os seus periféricos, cabos de comunicação, interfaces, processando informações o tempo todo, buscando arquivos na memória, calculando, distribuindo, comunicando. Por isso o xadrez é sempre utilizado para testes com sistemas de Inteligencia Artificial. 

Um detalhe da matéria me chamou a atenção: Magnus, o super-humano, estaria usando outras áreas cerebrais quando joga xadrez, o que o diferencia da imensa maioria!



"A área de associação cerebral, localizada na região parietal esquerda do nosso cérebro, recebe as informações percebidas pelo nosso aparelho sensorial, e após coordena-las, e associa-las, da um sentido a elas, reconhecendo uma nova razão lógica, tranformando informações, em conhecimento." (Ítalo Venturelli)




Lembrando, porém, que isto só se consegue com o treinamento intensivo do profissional de xadrez!

Bem, eu recomendo uma leitura muito interessante, "O Erro de Descartes", de Antonio Damasio, como uma introdução ao estudo desta fascinante viagem sobre esta organização cerebral. O livro pode ser polêmico, mas, como eu disse, temos que estudar, ler muito, para entender um pouquinho do que se passa no nosso cérebro, para justamente, podermos ajudá-lo logo adiante.

E, claro, que passem a se interessar e ouvir mais quem realmente entende do assunto, como o doutor Ítalo Venturelli, que deu um verdadeiro show no "I Seminário de Xadrez Escolar", sabiamente oferecido pela PMSP, com o grupo da XME (Xadrez Movimento Educativo). E quem poderia apoiar mais tal evento, senão um cara chamado Garry Kasparov?


Vejam que linda imagem: as crianças das escolas da PMSP entrevistando o dr. Ítalo Venturelli com um cérebro de verdade nas mãos! Que efeitos motivadores não teriam ocorrido neste momento para as crianças ali presentes?

COM A PALAVRA, O DR. ÍTALO:
(em conversa com a jornalista Mayra Maldjian)

Faço estas palestras há muitos anos, gratuitamente, pois acredito que o xadrez é um excelente recurso pedagógico. 
Quando dei aulas de pós graduação em psicopedagogia, pude comprovar este recurso. 
Em SP, já há muitos anos, participo da formação dos professores de xadrez , das escolas publicas . 
É um trabalho super gratificante, pois vemos a melhora da capacidade de concentração e atenção das crianças. 

Digo que se transformam em pequenos detetives, pois ficam mais atentos a tudo que se passa. 
Ano passado dei palestras para os professores do colégio e cursinho Anglo, pois o xadrez será colocado como matéria para o pessoal que irá prestar vestibular. 
Dizemos que "com o xadrez o homem se acostuma a raciocinar sobre pressão", que é a grande questão do homem moderno. 

Como trabalho junto ao Dr Jorge Forbes no IPLA( Instituto da psicanalise Lacaniana). aproveito os recursos da psicanálise para aplica-los junto aos alunos, professores, e nas palestras.

O processo de aprendizagem acontece como se fosse uma equação matemática, onde tudo se inicia quando conseguimos despertar a atenção das crianças. Quando conseguimos isto, por determinado tempo, provavelmente ela irá se concentrar. Daí o processo vai se desenrolando, com a passagem das informações para as áreas da memória e para as áreas de associações, desenvolvendo-se assim os chamados padrões cognitivos. Esta transformação das informações ocorre quando conseguimos mostrar a razão pela qual uma informação se coordena com outra. Estes novos padrões cognitivos de conhecimento serão os facilitadores para a transformação de novas informações. Neste instante poderá acontecer a maravilha das maravilhas, o qual nosso cérebro é mestre: o milagre chamado "Dedução". O eletron que salta. Um novo conhecimento. Muito além da soma das informações anteriores. Algo novo; sensacional. A energia advinda do conhecimento, que para muitos, é o maior prazer que um ser humano pode sentir. 
Todas as áreas do cérebro são estimuladas com as atividades intelectuais. No caso do Xadrez, trata-se de atividade intelectual de alto nível, pois requer análise, cálculo, deduções, e muito controle emocional. Para se tornar um bom jogador, é necessário disciplina e muito estudo. No Brasil temos excelentes jogadores, como o famoso Mequinho e atualmente o Geovanni Vescovi como exemplos. 
O homem moderno perdeu sua bússola. É o que o grande psicanalista brasileiro Dr Jorge Forbes chama de " o Homem Desbussolado". Vivemos novos dias e uma nova ordem social. Utilizando estas orientações para o jogo de xadrez, percebemos que ao jogarmos, temos que coordenar as peças do tabuleiro como muitas das atividades da vida. Todos estamos sujeitos a termos que tomar decisões cada vez mais rapidamente. Em varias situações estamos ligados a varias questões acontecendo simultaneamente. Com a utilização do jogo de xadrez, as crianças e adolescentes se acostumam a permanecer raciocinando por um tempo mais prolongado. O uso do relógio que é utilizado durante os jogos ajudam neste treino.Poucas são as pessoas que conseguem continuar raciocinando, quando estão pressionados, ou quando estão com fome, com pressa ou com medo. Acontece o famoso " deu branco ". Termo comum entre os vestibulandos. 
Em alguns cursinhos preparatórios para o vestibular esta sendo estudado o uso do xadrez. 
Os estímulos advindos das atividades intelectuais funcionam muito bem em qualquer idade. Até na terceira idade. 

Temos varias historias de jogadores de xadrez, que jogam muito bem até em idade bem avançada. 
A questão dos adolescentes é a área de interesse. Os homens, permanecem interessados em competições mais avidamente do que as mulheres, por questões psíquicas e biológicas. 
Com os conhecimentos advindos das novas tecnologias, como a chamada ressonância funcional, percebemos algumas diferenças no funcionamento do cérebro do homem e da mulher. 
Como disse estamos aprendendo com as novas técnicas diagnosticas, e ao que parece, enquanto um garoto joga um "game" , em seu cérebro ativam-se áreas relacionadas ao prazer, diferentemente da mulher, onde se ativam as áreas da fala. Outro fato interessamente diz respeito a localização espacial , onde o homem se orienta espacialmente por imagens cartográficas, e a mulher por objetos referencias. 
Regiões interessantes de serem evidenciadas, são as áreas de associação, localizadas na região parietal esquerda.  

Acho que seria legal a imagem de um tabuleiro refletido, a partir de um cérebro, em direção e contato com uma tela de computador, pois é lá que o jovem vai jogar, para ficar plugado com sua rede, que é onde ele mantém um contato horizontal, nesta nova orientação social. 
Quer um tabuleiro melhor que uma rave ? Impossível !!!


PARA SABER MAIS SOBRE O CÉREBRO:   BLOG DA ANNE

OBS - Fotos gentilmente cedidas pelo dr. Ítalo, com créditos para o GM Giovanni Vescovi.

13 comentários:

  1. Olá Léo!

    Parabéns pelo conteúdo da entrevista e do blog.O trabalho do Dr. Venturelli é muito esclarecedor e importante para nós que trabalhamos com xadrez escolar.

    Saudações enxadrísticas!

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  2. Muito massa, Léo - continue produzindo assim, com qualidade, porque o reconhecimento pode demorar, mas sempre vem -

    e a virtude verdadeira já é sua própria recompensa.

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  3. Olá!! Gostaria de saber onde posso encontrar o dvd: Uma aventura no reinod do xadrez.
    Obrigada.
    Sheila

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  4. Privilégio por ter o prazer de vivenciar uma formação tão significativa com um tutor que faz jus a excelência do curso ofertado.

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  5. Parabéns pelo excelente trabalho e pesquisas, como essa!
    A educação está cada vez mais precisando desses incentivos.
    O xadrez dá várias possibilidades educacionais para os professores(as) como um todo, trabalharem, utilizando praticamente em todas as áreas de conhecimento, e como jogo, esporte, faz com que se crie atividades neurais, que poderão serem utilizadas e ressignificadas em várias atividades sociais que esse aluno(a) irá conhecer e enfrentar um dia em sua vida.

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