sábado, 25 de agosto de 2012

O Arquiteto das Peças de Xadrez

        Caros Amigos,

     Nas últimas férias de julho, conheci um jovem senhor, arquiteto, que confeccionou suas próprias peças de xadrez, há mais de 40 anos, com porcas, parafusos, arruelas etc. 
     Eu tinha resolvido fazer uma pequena aventura, viajar sem destino, e aproveitar para descansar e meditar um pouco. Mas não é que, logo ao chegar na cidade, a procura de um lugar diferente, ouvi o senhor que estava ao meu lado dizendo das águas limpas e dos pássaros que cantarolavam o dia inteiro em sua pousada? Bem, puxei conversa e ele me levou até lá. Me disse que normalmente a pousada é frequentada por casais ou famílias com filhos. 
     A primeira coisa que notei quando chegamos foi um tabuleiro de xadrez, bem antigo e de madeira, encostado perto da televisão. Em seguida já fiz a pergunta, "joga xadrez"?




     O "seu" Ricardo, dono da Pousada "Toca das Maritacas", em Piracaia, São Paulo, pertinho de Bragança Paulista, me contou que gostava muito de xadrez, que aprendera com o pai, com quem jogava frequentemente. Ele lembrou as palavras de seu pai: "Ricardo, pratique o xadrez para exercitar os seus pensamentos, encontrar novos amigos, se divertir". "No xadrez existe alguma coisa mágica que lhe trará bons momentos de inspiração, pois enquanto joga, sua mente trabalha com alguns aspectos do seu inconsciente e o ajudarão a resolver os problemas do cotidiano".   




     Como todo arquiteto recém-formado que quer inventar alguma coisa nova, um estilo novo, pensou no jogo de xadrez. Comprou as ferragens, montou as peças e mandou cromá-las. Com muito orgulho, me mostrou sua criação, guardada com todo carinho.

     Seguiu-se uma longa história. Ele me contou de que um dia, quarenta anos atrás, passeando pelo  centro de São Paulo, encontrou no chão um parafuso e uma porca atarraxados de forma peculiar. Guardou aquelas peças no bolso e continuou caminhando. Em seguida se deparou com uma porta quadriculada em preto e branco de um elevador. Tratava-se do Clube de Xadrez de São Paulo. 
     Resolveu subir, lembrando do velho pai e de seus sábios conselhos com relação ao jogo de xadrez. Se deparou com algumas mesas, uma com um senhor que aguardava um adversário para jogar umas partidas.
     O "seu" Ricardo se aproximou e resolveu arriscar uma partida. Perdeu duas em seguida muito rapidamente, mas ouviu do oponente sobre  as tardes que passava prazerosamente no Clube. 
     Num movimento involuntário, o "seu" Ricardo bateu com a mão no bolso e lembrou daquele parafuso. A ideia foi imediata: confeccionaria um jogo de peças com aquele tipo de material. Agradeceu ao seu adversário, saindo em seguida a procura de uma casa de ferragens.



            Na casa de ferragens, enquanto aguardava o pedido que fizera ao vendedor da loja, deparou-se com um anúncio de jornal indicando um terreno a venda: quem diria, aquele pedaço de terra se transformaria em sua futura pousada!
              E querem mais? Pois não é que a moça que queria vender aquele pedaço de terra seria sua futura esposa? Desde então, o "seu" Ricardo, que não voltou mais ao Clube de Xadrez, nem confeccionou mais peças, apenas deixa embaixo do seu balcão na pousada, duas sacolinhas em couro e tecido, e nelas suas peças de xadrez da sorte. Me confidenciou também que muita gente que por ali passou e que jogou com aquelas peças, acabou voltando inúmeras vezes para conseguir momentos de tranquilidade e inspiração na sua pousada.

      O Xadrez não é só um jogo. É uma sábia invenção humana, que permite apreciarmos em diversas formas de manifestação, artística e cultural, científica. Cabe a nós, amantes do xadrez, darmos a oportunidade de mostrar esse outro lado para as pessoas, para que o jogo-ciência-esporte-arte continue trazendo desafios, sonhos, lazer, cultura. O xadrez é uma ferramenta para todas as idades e todos os gostos, só precisamos despertá-la! 


     Passei boas horas com o "seu" Ricardo. Me contou muito da São Paulo antiga, de seus trabalhos, de seus estudos no Rio de Janeiro, de suas aventuras e, claro, das maritacas que toda manhã o despertavam.

        Como diria o lema do Xadrez Postal Brasileiro: "leva o xadrez, traz o amigo".

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