segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Entrevista do Mequinho para CBN em 2007

Para quem ainda não tinha lido a entrevista abaixo, realizada pelo jornalista Carlos Eduardo Éboli, da CBN, em fevereiro de 2007.


Mequinho: Mas você sabe, não há nenhum caso em todo o esporte brasileiro, eu digo no esporte, não é só no xadrez, é no tênis, no futebol, no basquete, um jogador que tenha ficado 17 anos sem jogar o seu esporte e tenha voltado a ser o número 1 da seleção brasileira. Eu joguei já duas vezes como número 1 da seleção brasileira, e estou subindo agora cada vez mais. Por que estou subindo? Tenho 54 anos, mas eu faço esportes. Segundo um especialista que me faz a preparação física, eu tenho preparação física de 35 anos. Graças a Deus! Porque eu muitas vezes pedi a Deus, eu sou teólogo católico, Jesus me salvou através de oração de pessoas da Renovação Carismática Católica, que é o movimento que mais cresce dentro da igreja católica, exatamente porque Jesus tem curado muitos doentes, e aqui inclusive em Guarulhos eu trouxe 50 exemplares do meu livro, qualquer pessoa no Brasil inteiro pode comprar, está na sexta edição, “Como Jesus Cristo Salvou Minha Vida”, ed. Loyola, autor sou eu Mequinho. Este livro está para ser publicado agora na Itália, onde eu venci um torneio agora em junho, então eu fiquei estes anos todos sem jogar xadrez. Eu também me formei em teologia católica, em filosofia, e passei 17 anos sem jogar xadrez e voltei a ser o primeiro da seleção brasileira de xadrez.

Éboli: E pelo jeito voltou melhor do que antes, não é Mequinho, porque voltou com muita disposição, a gente percebe nas suas palavras, na sua voz, como os médicos falam, 54, mas com “corpinho” de 35, e mostrando que preparo físico é fundamental, mesmo no xadrez. As pessoas tem aquela imagem, o sujeito sentado, pensando, mão na cabeça, qual é a melhor jogada? Jogo de precisão, num tabuleiro, um confronto, desafio de mentes, mas estar bem fisicamente é fundamental também.
Mequinho: Porque quando eu estou descansado, esta doença que eu tenho, esta “miastenia gravis”, que é um mau contato entre os nervos e os músculos, de qualquer maneira então, teoricamente, qualquer esforço que eu faça, física ou mental, eu demoro um pouco mais de tempo que as demais pessoas pra me recuperar. Esta cura tem sido me dada de maneira milagrosa por Jesus. Em 1979 me davam apenas 15 dias de vida, porque eu não podia mastigar fazia um mês e meio. Esta doença pode atacar qualquer músculo do corpo, as pernas estavam fortemente atacadas, eu sem mastigar, só podia tomar alimentos líquidos, ia enfraquecendo de dia pra dia. Você não imagina! Quem lê o meu livro, quem tem um doente na família fica maravilhado, como eu estava tão mal, pra morrer, e agora eu vou pelo mundo inteiro, vou pra Espanha, para a Itália, ganho torneio de xadrez, faço esporte, e estou muito bem, não é? Então Jesus está me curando progressivamente, agora eu já estou 99,9% bom, então, na medida em que vou ficando cada vez melhor, eu vou jogando melhor xadrez.
Éboli: Vamos voltar lá no início, cinco anos de idade, foi quando você começou a jogar, não foi?
Mequinho: Exatamente, com sete anos eu já era vice-campeão da minha cidade onde eu jogava, no Rio Grande do Sul, mas jogando entre adultos. Atualmente no xadrez tem muitas categorias, sub-10, sub-12, sub-14, no meu tempo não era assim, há 40 anos atrás, ou era juvenil ou adulto, e eu jogava só com os adultos, com sete anos eu já era vice-campeão da cidade, que no caso era São Lourenço do Sul, jogando com adultos, com 12 anos eu já era campeão do Rio Grande do Sul.
Éboli: Porque você era um extra-série. Hoje, um enxadrista, mais novo, ele mesmo se revelando um extra-série, como você é, um mestre do xadrez, já jovem revelando este dom que você tem para esta modalidade, para este jogo, quer dizer uma pessoa mais jovem não pode se misturar com os adultos, não pode jogar numa categoria superior, mesmo tendo capacidade para tal?
Mequinho: Não, claro que pode. Mas exatamente eu jogava porque eu conseguia ganhar dos adultos. Então, esta cidade onde eu morava, era uma cidade relativamente pequena. Aí, um pouco depois, quando eu tinha oito anos de idade, a minha família já mudou para uma cidade maior, que era Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde lá havia um senhor que era tri-campeão gaúcho, e vice-campeão brasileiro. Aí eu demorei 3 anos para conseguir superá-lo, ele tinha sido vice-campeão brasileiro! Com 12 anos eu consegui derrota-lo, ser campeão do Rio Grande do Sul, com 13 anos eu consegui ser campeão brasileiro, a primeira vez que eu joguei o campeonato brasileiro! Mas quer dizer, campeonato brasileiro de todas as idades, absoluto. Depois com 15 anos eu fui campeão da América do Sul e mestre internacional; com 20 anos era grande mestre internacional, que é o maior título vitalício que a federação mundial dá. Acima de mestre e grande mestre internacional, só tem o campeão do mundo, mas não é um título vitalício, quer dizer ele pode ganhar hoje, daqui a um ano, daqui a meio ano, daqui a dois anos ele pode perder. O título de grande mestre internacional é o maior título que a pessoa não perde nunca, é vitalício.
Éboli: Em 1978, Mequinho, você atingiu a pontuação de terceiro melhor do planeta no xadrez, atrás apenas do Korchnoi e do Karpov... O que você lembra desta época e destes dois jogadores?
Mequinho: Eu era o melhor jogador fora da Rússia, os dois eram russos, então eu estava no auge, a doença começou um ano antes, em 1977, aí eu fui caindo, fui caindo também porque houve uma inflação muito grande no ranking da federação mundial. No xadrez chama-se “rating”, então em determinado momento, a federação mundial deu 100 pontos para as mulheres, e então isso inflacionou muito o mercado, se não tivesse havido esta inflação eu ainda estaria entre os melhores do mundo, quer dizer, não sei bem que número, eu estaria entre os 40, os 50, mas eu estou subindo rapidamente agora. Basta eu jogar torneios internacionais. Eu estou jogando cada vez melhor. Nos últimos 5 torneios internacionais que eu joguei, eu perdi só uma partida, entendeu? Na realidade eu sou muito católico, quando eu começo a ficar mal na partida, eu começo a pedir a Jesus e a Nossa Senhora que me salvem, e Jesus fica com pena de mim, que ele sabe que eu gosto muito pouco de perder, tenho horror a perder, e estou dizendo que em cinco torneios internacionais, foram em São Paulo, a zona sul-americana do Brasil (Brasil, Peru e Bolívia), depois um torneio internacional em Caxias do Sul, outro na Itália, outro na Espanha, e outro agora no Paraná, em Guarapuava, em 5 torneios internacionais, joguei 15 partidas com grande-mestres internacionais, eu só perdi uma partida, é uma coisa maravilhosa!
Eboli: Quantas vezes você enfrentou o Karpov?
Mequinho: Karpov, eu sempre saí mal com ele, só empatei uma com ele, porque eu joguei, a primeira, eu não era Grande Mestre, com ele eu não tenho bom “score”. Por exemplo, eu já ganhei duas vezes de um outro ex-campeão do mundo, e já ganhei uma vez também de um outro ex-campeão do mundo, esse outro já morreu, o Miguel Tal, que é considerado um tremendo gênio do xadrez, ele sacrificava as peças, fazia combinações, ataques devastadores, e a única que eu joguei com ele eu ganhei. Até foi uma pena, como ele já morreu, ele jogou comigo e disse: “Joguei com Mequinho, perdi, mas espero que esta partida foi a primeira, e que não seja a última”, mas, infelizmente foi também a última, pois ele morreu.
Éboli: Com Karpov era complicado, mesmo você solicitando a ajudinha divina ...
Mequinho: Não, porque quando eu joguei com Karpov eu não era religioso como eu sou hoje. Foi por isso, entendeu? Quando eu joguei com Karpov, eu não era..., eu me converti depois que fiquei doente. Na realidade, de todas as partidas que eu joguei com Karpov, só a última é que eu era religioso, entendeu? Quando eu voltei, no ano 2000, você pensa bem, em qualquer esporte, não precisa nem ser xadrez, um atleta que fica dezessete anos sem jogar o seu esporte, se recente. Então no ano 2000, 2001, 2002, eu não estava ainda a todo vapor, eu me recentia daqueles anos todos, eu parado. Agora eu estou indo cada vez mais com mais vigor. Por exemplo, o Karpov veio pra cá jogar uma simultânea, no Brasil, no Clube de Xadrez São Paulo, faz 1 ou 2 anos atrás, ele jogou contra 20 jogadores, e perdeu uma partida, empatou algumas, parece que empatou 4 e ganhou o resto, 15. E eu não, eu no Brasil, há 30 anos eu não perco nenhuma partida em simultânea.
Éboli: eu quero saber então se ao menos um destes 20 jogadores que estarão com você, fazendo esta simultânea, se alguém vai ter a capacidade de derrubar, de quebrar esta seqüência brilhante do Mequinho...
Mequinho: Não, nem fale, nem fale nisto! Eu estou há 30 anos sem perder nenhuma partida. Teve uma vez em Cuiabá, que eu me distraí... Você sabe jogar xadrez, não sabe? Eu perdi um cavalo...Eu tinha só dois peões, mas eu estava totalmente perdido, eu me distraí.Eu pensei que a simultânea era mais fraca... E, em determinado momento eu me distraí.Aí as moças ficaram rezando todo tempo, moças católicas da Renovação Carismática Católica, eu disse pra elas, nem mais o campeão do mundo salva...Só Jesus. Aí elas disseram, nós vamos ficar todo o tempo rezando. Aí um monte de gente aglomerado na mesa que eu ia perder, e por azar meu era o melhor jogador lá do Mato Grosso. Aí eles rezaram, rezaram.Eu fiquei toda partida perdido, e na última hora, no último momento, Jesus deu um jeito, eu consegui empatar a partida, quase que milagrosamente. Milagrosamente! Mas realmente, eu estou há 30 anos sem perder nenhuma partida em simultânea no Brasil, e espero ainda ficar muitos anos.
Éboli: Legal, Mequinho, obrigado pela sua participação. Sucesso aí neste evento em Guarulhos, você jogando simultaneamente contra estes 20 jogadores. Muito obrigado. Bom saber que você está bem, voz firme, seguindo nesta carreira brilhante.
Mequinho: Muito obrigado, e eu quero o apoio de todos os brasileiros, e de vocês da imprensa, porque eu tenho chance de voltar a ser um dos melhores do mundo , e isso vai acontecer, com a ajuda de Deus, mas eu tenho chance até mesmo de ser campeão do mundo. O Anand na Índia, ele foi campeão do mundo, porque lá na Índia, todo mundo o apóia. Ele é um herói nacional, destaque em toda imprensa, em todos os meios. É preciso aqui no Brasil eu ter este apoio, entendeu? É muito importante pra mim, muito importante. Obrigado e foi um prazer falar com você e com os ouvintes da rádio, tá bom? Muito obrigado!
Éboli: Muito bem, eu conversei com Henrique da Costa Mecking, o Mequinho, um dos maiores enxadristas do mundo, e ele é brasileiro, hein ?
Contato: leopasq10@yahoo.com.br

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