quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Neurociências e o Xadrez

Amigos,
As pesquisas com neurociências vem avançando muito. Estudos de neuro-imagem, ressonância magnética, são recentes. E os dados das pesquisas sobre o desenvolvimento cerebral ainda estão evoluindo.
Ao nascer, o ser humano já nasce com uma quantidade de neurônios maior do que quando terá em uma idade adulta. Até os 2 anos de vida, atingimos nossa capacidade máxima de densidade neuronal no lobo frontal, depois ela vai diminuindo.  A redução no número de sinapses no lobo frontal pode representar um “refinamento qualitativo” na capacidade funcional dos neurônios.
Porém, o importante é o que acontece com os neurônios neste momento: suas conexões, o crescimento da arborização (dendritos) e suas ligações axônicas. Posteriormente, com a conexão de neurônios mais distantes fisicamente entre si, a mielinização.
Esta fase importantíssima é a do seu desenvolvimento, da linguagem, do sistema motor.  As interferências Culturais e Ambientais estão diretamente ligadas ao comportamento. Uma boa alimentação, um bom ambiente familiar, mas também estímulos cognitivos são fatores determinantes.
O período de maior desenvolvimento das Funções Executivas, aquelas responsáveis por planejamento, inibição, flexibilidade e a memória de trabalho está entre os 6 e 8 anos de idade. Aos 10 anos elas já conseguem atingir o nível dos adultos quanto a performance em testes (Wisconsin), mas no teste de fluência verbal só o conseguem aos 17, 18 anos. Aos 14 anos os lobos frontais se desenvolvem de forma estável até os 45 anos, mas ainda em pleno desenvolvimento!
O desenvolvimento da linguagem participa em muitos processos mentais elevados, como o do planejamento, resolução de problemas, abstração. A linguagem será a grande intermediadora nas habilidades cognitivas.
Estimular a criança no desenvolvimento dessas Funções Executivas (FE) é o alvo que devemos prestar atenção.  Muitos trabalhos estão sendo feitos em estimular as FE, e uma das ferramentas importantes é o Xadrez.
Se formos pensar a respeito, planejamento e flexibilidade, a inibição de nossos impulsos em fazer jogadas precipitadas e a enorme utilização de nossa memória de trabalho para a “visualização” e a comparação de inúmeras variantes são essenciais para se jogar bem Xadrez. Recomendo a leitura do livro “Uma Questão de Caráter”, de Paul Tough, que traz um capítulo inteiro sobre o uso do Xadrez nas escolas dos Estados Unidos.

A plasticidade do cérebro, ou seja, a sua capacidade de se modificar e reorganizar, é para a vida toda. Desenvolvimento e Maturação; Aprendizado e Memória; Reabilitação Neuropsicológica devido a lesões; em todos estes casos, é possível utilizarmos da ferramenta Xadrez, desde que se tenha um objetivo a ser alcançado e usá-lo de maneira adequada, estimulando de forma positiva com experiências enriquecedoras.
Quando temos que tomar decisões, criar vínculos, empatia, inibir a satisfação imediata das nossas vontades, estamos falando das Funções Executivas “quentes”, aquelas que envolvem as emoções (lobo frontal conectado com o núcleo caudado e amigdala), onde as consequências das decisões que tomamos aparecem. No jogo de xadrez, as consequências de nossas decisões aparecem ao final da partida; decisões tomadas sem uma análise cuidadosa podem gerar a perda da partida, deixando o jogador frustrado.
Treinar uma criança com problemas de xeque-mate em 1 lance, por exemplo, estamos exercitando puramente o cognitivo, a análise, a busca, a flexibilização de ideias. Porém, quando se joga uma partida e se coloca em prática o que se aprende, é posta à prova as emoções, as decisões influenciadas por sentimentos. As consequências não demoram à acontecer!
Vou continuar com o tema Reabilitação Cognitiva no próximo post.

Até lá!

Um comentário:

  1. Parabéns! Excelente matéria, tomara que a segunda parte não demore. Abraço.

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