quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

As Peças Contam Histórias!

Amigos,

Eu recebi um e-mail da Marina, de São Paulo, em setembro passado, perguntando se eu conhecia alguém que restaurasse peças de xadrez. Tratava-se de um jogo antigo, fabricado lá pelo ano de 1957 ... Um jogo de xadrez que tinha pertencido ao avô de seu marido! Indiquei o Dirk Dagobert Van Riemsdiyk, que trabalha confeccionando peças há muitos anos!

Ela me contou diversas histórias acontecidas com aquele jogo:
"A tradição do xadrez já existe na família Rappl há muitas décadas... O bisavô do meu marido veio com a esposa para o Brasil fugidos da revolução russa... diz que era alfaiate de luxo da nobreza russa... com a guerra civil não viram outra saída a não ser fugir da região e optaram em vir para o Brasil... além também de que eram todos judeus... outro fator que ajudou na decisão... tudo isso por volta de 1917, 1918... o bisavô Hermann (dono do jogo de xadrez) nasceu no navio vindo para cá... ele aprendeu a jogar xadrez com seu pai (tataravô do Pedro, meu filho) e ensinou meu sogro este fabuloso jogo... 
Este tabuleiro foi base de ensino, então, do pai do meu sogro, que ensinou meu sogro, meu sogro ensinou meu marido e meu filho também terá oportunidade de jogar utilizando o mesmo jogo de peças ... incrível...
O cheiro da madeira é mágico..."


  


Com o xadrez escolar e o barateamento dos custos de competições com grande quantidade de jogadores, tanto peças como tabuleiros são feitos de plástico. Esta característica da sofisticação da madeira perdeu-se. Só em eventos de alto nível elas ainda são obrigatórias. Uma pena, pois a madeira tem uma magia, uma coisa mais natural, mais humana, mais viva. 

Insinuei à Marina em comprar o jogo. Eis a resposta que eu queria ouvir:
"Desculpe-me, Léo, mas é herança de família e passaremos para as gerações seguintes, com certeza... sem intenção de venda, sem nenhuma dúvida...".

O mundo está tão descompromissado, é difícil as pessoas darem valor as suas próprias histórias, este é um bem incalculável! Meus parabéns, Marina!
"Você não imagina a emoção do momento no qual meu sogro recebeu de volta o jogo, na noite de Natal... suas lágrimas de carinho foram inexplicáveis... não teve palavras para agradecer, apenas chorou e muito... comoveu todos os familiares presentes... além de contar, que foi em uma noite de natal há mais de cinquenta anos atrás, que desembrulhou o mesmo jogo que seu pai (bisavô do meu filho) lhe presenteou após ter recuperado também naquela época...
Agradeço a indicação que ficará registrada pelo resto de nossas vidas... a família Rappl agradece a satisfação de fazer um avô muito feliz..."

 


Eu também tenho minhas histórias com as peças de xadrez ... para começar, uma muito especial. O jogo que ganhei do meu pai, no meu aniversário, em 1978, há 34 anos atrás! Meu pai faleceu pouco mais de 1 ano depois, mas esse presente eu guardo com muito carinho. São as mesmas peças que aparecem em algumas cenas do vídeo "Uma Aventura no Reino do Xadrez". Elas passearam comigo em diversos torneios pelo Brasil. Será que o meu filho saberá dar valor a elas? Bem, este é um dos motivos pelo qual estou contando tudo isso. Pelo mesmo motivo que sensibilizou a Marina.



Depois ganhei um outro jogo de peças, no dia dos namorados, da Silvana, mãe do Pedro, em 1989. 


Finalmente, meu último jogo de peças, comprei em Sófia, por ocasião do Mundial Anand-Topalov. Que recordação única!



Qual deles é o mais valioso para mim? Lógico, todos, pois cada um tem sua história, única, viva, cheia de lembranças! De qualquer forma, tenho um carinho todo especial pelo primeiro, além de ter sido uma recordação do meu pai, estudei muitos livros de xadrez com ele (Bobby Fischer, Smyslov, Capablanca, Alekhine, Tal ...). 

E voce, que histórias vai nos contar? Que histórias vai deixar para os seus filhos?


Ótimo 2012 a todos! Um abraço especial ao meu amigo Dimitar Gogov.



Um comentário:

  1. Oi Léo! É uma honra poder postar um comentário em seu blog, sobre xadrez com história, uma por não ser jogadora assídua, mas apenas admiradora do jogo/esporte como vocês dizem. Como educadora sei da importância dele para o desenvolvimento cognitivo de uma criança.
    Tenho uma história pra contar também com o xadrez que está na família a uns 40 anos, herança de antigos patrões de meus pais, pessoas que para eles foram como pais, os ajudaram muito no início de suas vidas de recém casados.
    Mas pra mim este jogo tem uma história com nosso amigo em comum, o Dimitar, que há 30 anos atrás foi ele que me ensinou os primeiros passos no xadrez, então, não preciso falar mais nada a respeito. Ficou na memória e no coração. E ele nos últimos dois anos faz parte de novo de nossa convivência, sua sempre e minha recente. E por intermédio dele, nós nos conhecemos.
    Bom, a história é simples mas importante pra mim.
    Um abraço a todos!
    Marcia

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