Aventuras no Reino do Xadrez
Dedicado aos meus amigos e inimigos enxadristas, verdadeiros aventureiros, amantes da liberdade.
quarta-feira, 11 de novembro de 2020
sábado, 17 de agosto de 2019
XADREZ TERAPÊUTICO
O
Jogo de Xadrez (JX) se tornou uma ferramenta para além do lazer e esporte. Suas
aplicações com crianças especiais ou com dificuldades de aprendizagem, terapia
e reabilitação cognitiva para dependentes químicos ou portadores de
esquizofrenia, idosos e mesmo adultos que querem prevenção da perda cognitiva,
têm sido utilizadas em maior ou menor escala, com resultados favoráveis.
O
professor-terapeuta utiliza o JX de modo a conduzir um trabalho específico
voltado a beneficiar disfunções de seus “alunos-pacientes”, questionando
jogadas impulsivas, perguntando sobre correlações com momentos da vida,
buscando a realidade de situações presentes. Sendo assim, sabe conciliar as
atitudes, movimentos e reflexões que acontecem diante do tabuleiro de xadrez.
Para
o dependente químico, compara o lance impulsivo no jogo com a aceitação rápida
de uma droga a ele oferecida; para o paciente autista consegue uma comunicação
através da interação com os movimentos das peças; para um paciente com
transtorno de déficit de atenção propõe desafios de xeque-mate que exigem seu
empenho e sua atenção. E assim se utiliza de seus recursos criativos e voltados
às especificidades de cada aluno-paciente através do JX.
Os
alunos-pacientes que vem para consulta esperam por resultados. As provas que o
terapeuta pode fornecer são qualitativas, pois os próprios familiares, e até
mesmo o aluno-paciente, podem avaliar por si mesmos.
O
aluno-paciente que recebe a intervenção para o seu tratamento, faz associações
do xadrez com a vida. Por exemplo, o paciente dependente químico associa o
lance executado no tabuleiro, de forma impulsiva, com o aceite imediato da
oferta da droga da qual ele procurava se afastar. Se tivesse observado,
analisado e calculado as consequências de seu lance no tabuleiro, poderia ter
evitado a perda da sua Dama? Esta associação entre o JX e a vida cotidiana
passa a fazer parte dos pensamentos do sujeito. Simetricamente, o sujeito pode
recusar este pensamento, se aproximando de outras associações e de outros
estímulos que lhe são mais importantes. O contexto das situações liga
associações muitas vezes inesperadas.
As
provas sobre os benefícios da prática do JX como terapia provém dos artigos
científicos e de resultados com pacientes que já estiveram em tratamento.
Nos
próximos posts relataremos as intervenções realizadas durante as aulas de
xadrez.
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
Estimulação Cognitiva II
A Estimulação Cognitiva
com o jogo de xadrez é um processo que acontece naturalmente.
Vejamos: enquanto se
disputa uma partida, a nossa atenção se envolve em resolver os inúmeros
problemas que surgem a cada lance do jogo. Nossa visão percorre o tabuleiro
buscando as movimentações das peças. O raciocínio lógico é ativado para que o
lance seja coerente, ou seja, o movimento da peça dentro das regras
estabelecidas. O raciocínio abstrato também entra em cena, pois temos que
imaginar o lance, a posição final após o nosso movimento, e as possíveis
reações do nosso adversário.
A memória de trabalho
(working memory) é super ativada; muita da nossa energia é aplicada ao jogo. O
desgaste deste trabalho árduo do nosso cérebro traz, por consequência, cansaço.
Talvez seja por isso que muitas pessoas considerem o xadrez um jogo difícil,
por saberem (e já terem experimentado) este desgaste.
Continuar com a
estimulação, digamos, uma hora por dia, já é um treino excelente para as nossas
funções cognitivas e, portanto, trazem um benefício enorme para a nossa saúde
mental!
Aliás, saber um pouco
mais de saúde mental e como um profissional pode ajudar a beneficiar o nosso cérebro,
pode ser pesquisado neste link:
Eu recomendo
fortemente uma leitura atenta, que também é uma grande estimulação cognitiva!
Xadrez é Poesia!
XADREZ
Jorge Luis Borges
I
Em seu grave e longínquo lugar, os jogadores
regem as lentas peças. O tabuleiro
os detém até a aurora em seu severo
âmbito, onde se odeiam duas cores.
De dentro irradiam mágicos rigores.
As formas: Torre homérica, ligeiro
Cavalo, armada Dama, derradeiro Rei
oblíquo Bispo e Peões agressivos.
Quando os jogadores houverem ido,
Quando o tempo os haver consumido,
Certamente não haverá cessado o rito.
No Oriente se iniciou esta guerra
cujo anfiteatro é hoje toda a terra.
Como no outro, este jogo é infinito.
II
Tênue Rei, enviesado Bispo, encarniçada
Dama, Torre direta e Peão ladino
sobre o negro e o branco do caminho
buscam e travam sua batalha armada.
Não sabem que a mão assinalada
do jogador governa seu destino.
Não sabem que um rigor adamantino
sujeita seu arbítrio e a sua jornada.
Também o jogador é prisioneiro
(a sentença é de Omar*) de outro tabuleiro
de negras noites e de brancos dias.
Deus move o jogador, e este a peça.
Que Deus atrás de Deus a trama começa
de pó e tempo e sonho e agonias?
*Omar Khayyamm
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
Estimulação Cognitiva
Amigos,
Através do Jogo de Xadrez podemos fazer a "estimulação cognitiva", ou seja, instigar o nosso cérebro a raciocinar - que é o grande benefício, como os neurocientistas chamam, "plasticidade cerebral". Voltarei a este tema em um momento futuro.
A pergunta é: como conseguir esta estimulação com o Xadrez?
O professor, instrutor, reabilitador, deve levar em conta o perfil de seu aluno (poderia ser "paciente" ou "cliente").
Em primeiro lugar, uma avaliação do aluno; saber como andam as funções cognitivas, memória, atenção, raciocínio lógico e tomada de decisão.
Logo depois, elaborar junto ao aluno um plano de "reabilitação" com objetivos a serem atingidos.
As "aulas", em si, devem ser de maneira tal que crie um vínculo entre professor e aluno; isto é fundamental para a confiança, diálogo, troca de idéias e principalmente, motivação. Tudo passa pela motivação! O Aprendizado leva em conta o processo motivacional que coloca no topo a função cognitiva mais importante, a Atenção.
Para despertar a motivação, são necessários conteúdos recheados de história, de risos, de simpatia, de despertar a curiosidade. Um variado repertório de experiências é demais importante.
Com o Xadrez existe diversos tipos de intervenção que podem ser pontuadas no decorrer da aula; um enorme repertório está à disposição de um profissional experiente e dedicado. Este ponto podemos discutir mais tarde!
Finalmente, podemos reavaliar nosso aluno e descobrir se aconteceu o que foi combinado, se conseguimos, ao menos em parte, atingir os objetivos previamente estabelecidos.
Lembrando: conhecimento adquirido, aprendizagem, é saúde para o cérebro, levamos isto para toda a nossa vida.
Através do Jogo de Xadrez podemos fazer a "estimulação cognitiva", ou seja, instigar o nosso cérebro a raciocinar - que é o grande benefício, como os neurocientistas chamam, "plasticidade cerebral". Voltarei a este tema em um momento futuro.
A pergunta é: como conseguir esta estimulação com o Xadrez?
O professor, instrutor, reabilitador, deve levar em conta o perfil de seu aluno (poderia ser "paciente" ou "cliente").
Em primeiro lugar, uma avaliação do aluno; saber como andam as funções cognitivas, memória, atenção, raciocínio lógico e tomada de decisão.
Logo depois, elaborar junto ao aluno um plano de "reabilitação" com objetivos a serem atingidos.
As "aulas", em si, devem ser de maneira tal que crie um vínculo entre professor e aluno; isto é fundamental para a confiança, diálogo, troca de idéias e principalmente, motivação. Tudo passa pela motivação! O Aprendizado leva em conta o processo motivacional que coloca no topo a função cognitiva mais importante, a Atenção.
Para despertar a motivação, são necessários conteúdos recheados de história, de risos, de simpatia, de despertar a curiosidade. Um variado repertório de experiências é demais importante.
Com o Xadrez existe diversos tipos de intervenção que podem ser pontuadas no decorrer da aula; um enorme repertório está à disposição de um profissional experiente e dedicado. Este ponto podemos discutir mais tarde!
Finalmente, podemos reavaliar nosso aluno e descobrir se aconteceu o que foi combinado, se conseguimos, ao menos em parte, atingir os objetivos previamente estabelecidos.
Lembrando: conhecimento adquirido, aprendizagem, é saúde para o cérebro, levamos isto para toda a nossa vida.
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Entrevista do Mequinho para CBN em 2007
Para quem ainda não tinha lido a entrevista abaixo, realizada pelo jornalista Carlos Eduardo Éboli, da CBN, em fevereiro de 2007.
Mequinho: Mas você sabe, não há nenhum caso em todo o esporte brasileiro, eu digo no esporte, não é só no xadrez, é no tênis, no futebol, no basquete, um jogador que tenha ficado 17 anos sem jogar o seu esporte e tenha voltado a ser o número 1 da seleção brasileira. Eu joguei já duas vezes como número 1 da seleção brasileira, e estou subindo agora cada vez mais. Por que estou subindo? Tenho 54 anos, mas eu faço esportes. Segundo um especialista que me faz a preparação física, eu tenho preparação física de 35 anos. Graças a Deus! Porque eu muitas vezes pedi a Deus, eu sou teólogo católico, Jesus me salvou através de oração de pessoas da Renovação Carismática Católica, que é o movimento que mais cresce dentro da igreja católica, exatamente porque Jesus tem curado muitos doentes, e aqui inclusive em Guarulhos eu trouxe 50 exemplares do meu livro, qualquer pessoa no Brasil inteiro pode comprar, está na sexta edição, “Como Jesus Cristo Salvou Minha Vida”, ed. Loyola, autor sou eu Mequinho. Este livro está para ser publicado agora na Itália, onde eu venci um torneio agora em junho, então eu fiquei estes anos todos sem jogar xadrez. Eu também me formei em teologia católica, em filosofia, e passei 17 anos sem jogar xadrez e voltei a ser o primeiro da seleção brasileira de xadrez.
Éboli: E pelo jeito voltou melhor do que antes, não é Mequinho, porque voltou com muita disposição, a gente percebe nas suas palavras, na sua voz, como os médicos falam, 54, mas com “corpinho” de 35, e mostrando que preparo físico é fundamental, mesmo no xadrez. As pessoas tem aquela imagem, o sujeito sentado, pensando, mão na cabeça, qual é a melhor jogada? Jogo de precisão, num tabuleiro, um confronto, desafio de mentes, mas estar bem fisicamente é fundamental também.
Mequinho: Porque quando eu estou descansado, esta doença que eu tenho, esta “miastenia gravis”, que é um mau contato entre os nervos e os músculos, de qualquer maneira então, teoricamente, qualquer esforço que eu faça, física ou mental, eu demoro um pouco mais de tempo que as demais pessoas pra me recuperar. Esta cura tem sido me dada de maneira milagrosa por Jesus. Em 1979 me davam apenas 15 dias de vida, porque eu não podia mastigar fazia um mês e meio. Esta doença pode atacar qualquer músculo do corpo, as pernas estavam fortemente atacadas, eu sem mastigar, só podia tomar alimentos líquidos, ia enfraquecendo de dia pra dia. Você não imagina! Quem lê o meu livro, quem tem um doente na família fica maravilhado, como eu estava tão mal, pra morrer, e agora eu vou pelo mundo inteiro, vou pra Espanha, para a Itália, ganho torneio de xadrez, faço esporte, e estou muito bem, não é? Então Jesus está me curando progressivamente, agora eu já estou 99,9% bom, então, na medida em que vou ficando cada vez melhor, eu vou jogando melhor xadrez.
Éboli: Vamos voltar lá no início, cinco anos de idade, foi quando você começou a jogar, não foi?
Mequinho: Exatamente, com sete anos eu já era vice-campeão da minha cidade onde eu jogava, no Rio Grande do Sul, mas jogando entre adultos. Atualmente no xadrez tem muitas categorias, sub-10, sub-12, sub-14, no meu tempo não era assim, há 40 anos atrás, ou era juvenil ou adulto, e eu jogava só com os adultos, com sete anos eu já era vice-campeão da cidade, que no caso era São Lourenço do Sul, jogando com adultos, com 12 anos eu já era campeão do Rio Grande do Sul.
Éboli: Porque você era um extra-série. Hoje, um enxadrista, mais novo, ele mesmo se revelando um extra-série, como você é, um mestre do xadrez, já jovem revelando este dom que você tem para esta modalidade, para este jogo, quer dizer uma pessoa mais jovem não pode se misturar com os adultos, não pode jogar numa categoria superior, mesmo tendo capacidade para tal?
Mequinho: Não, claro que pode. Mas exatamente eu jogava porque eu conseguia ganhar dos adultos. Então, esta cidade onde eu morava, era uma cidade relativamente pequena. Aí, um pouco depois, quando eu tinha oito anos de idade, a minha família já mudou para uma cidade maior, que era Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde lá havia um senhor que era tri-campeão gaúcho, e vice-campeão brasileiro. Aí eu demorei 3 anos para conseguir superá-lo, ele tinha sido vice-campeão brasileiro! Com 12 anos eu consegui derrota-lo, ser campeão do Rio Grande do Sul, com 13 anos eu consegui ser campeão brasileiro, a primeira vez que eu joguei o campeonato brasileiro! Mas quer dizer, campeonato brasileiro de todas as idades, absoluto. Depois com 15 anos eu fui campeão da América do Sul e mestre internacional; com 20 anos era grande mestre internacional, que é o maior título vitalício que a federação mundial dá. Acima de mestre e grande mestre internacional, só tem o campeão do mundo, mas não é um título vitalício, quer dizer ele pode ganhar hoje, daqui a um ano, daqui a meio ano, daqui a dois anos ele pode perder. O título de grande mestre internacional é o maior título que a pessoa não perde nunca, é vitalício.
Éboli: Em 1978, Mequinho, você atingiu a pontuação de terceiro melhor do planeta no xadrez, atrás apenas do Korchnoi e do Karpov... O que você lembra desta época e destes dois jogadores?
Mequinho: Eu era o melhor jogador fora da Rússia, os dois eram russos, então eu estava no auge, a doença começou um ano antes, em 1977, aí eu fui caindo, fui caindo também porque houve uma inflação muito grande no ranking da federação mundial. No xadrez chama-se “rating”, então em determinado momento, a federação mundial deu 100 pontos para as mulheres, e então isso inflacionou muito o mercado, se não tivesse havido esta inflação eu ainda estaria entre os melhores do mundo, quer dizer, não sei bem que número, eu estaria entre os 40, os 50, mas eu estou subindo rapidamente agora. Basta eu jogar torneios internacionais. Eu estou jogando cada vez melhor. Nos últimos 5 torneios internacionais que eu joguei, eu perdi só uma partida, entendeu? Na realidade eu sou muito católico, quando eu começo a ficar mal na partida, eu começo a pedir a Jesus e a Nossa Senhora que me salvem, e Jesus fica com pena de mim, que ele sabe que eu gosto muito pouco de perder, tenho horror a perder, e estou dizendo que em cinco torneios internacionais, foram em São Paulo, a zona sul-americana do Brasil (Brasil, Peru e Bolívia), depois um torneio internacional em Caxias do Sul, outro na Itália, outro na Espanha, e outro agora no Paraná, em Guarapuava, em 5 torneios internacionais, joguei 15 partidas com grande-mestres internacionais, eu só perdi uma partida, é uma coisa maravilhosa!
Eboli: Quantas vezes você enfrentou o Karpov?
Mequinho: Karpov, eu sempre saí mal com ele, só empatei uma com ele, porque eu joguei, a primeira, eu não era Grande Mestre, com ele eu não tenho bom “score”. Por exemplo, eu já ganhei duas vezes de um outro ex-campeão do mundo, e já ganhei uma vez também de um outro ex-campeão do mundo, esse outro já morreu, o Miguel Tal, que é considerado um tremendo gênio do xadrez, ele sacrificava as peças, fazia combinações, ataques devastadores, e a única que eu joguei com ele eu ganhei. Até foi uma pena, como ele já morreu, ele jogou comigo e disse: “Joguei com Mequinho, perdi, mas espero que esta partida foi a primeira, e que não seja a última”, mas, infelizmente foi também a última, pois ele morreu.
Éboli: Com Karpov era complicado, mesmo você solicitando a ajudinha divina ...
Mequinho: Não, porque quando eu joguei com Karpov eu não era religioso como eu sou hoje. Foi por isso, entendeu? Quando eu joguei com Karpov, eu não era..., eu me converti depois que fiquei doente. Na realidade, de todas as partidas que eu joguei com Karpov, só a última é que eu era religioso, entendeu? Quando eu voltei, no ano 2000, você pensa bem, em qualquer esporte, não precisa nem ser xadrez, um atleta que fica dezessete anos sem jogar o seu esporte, se recente. Então no ano 2000, 2001, 2002, eu não estava ainda a todo vapor, eu me recentia daqueles anos todos, eu parado. Agora eu estou indo cada vez mais com mais vigor. Por exemplo, o Karpov veio pra cá jogar uma simultânea, no Brasil, no Clube de Xadrez São Paulo, faz 1 ou 2 anos atrás, ele jogou contra 20 jogadores, e perdeu uma partida, empatou algumas, parece que empatou 4 e ganhou o resto, 15. E eu não, eu no Brasil, há 30 anos eu não perco nenhuma partida em simultânea.
Éboli: eu quero saber então se ao menos um destes 20 jogadores que estarão com você, fazendo esta simultânea, se alguém vai ter a capacidade de derrubar, de quebrar esta seqüência brilhante do Mequinho...
Mequinho: Não, nem fale, nem fale nisto! Eu estou há 30 anos sem perder nenhuma partida. Teve uma vez em Cuiabá, que eu me distraí... Você sabe jogar xadrez, não sabe? Eu perdi um cavalo...Eu tinha só dois peões, mas eu estava totalmente perdido, eu me distraí.Eu pensei que a simultânea era mais fraca... E, em determinado momento eu me distraí.Aí as moças ficaram rezando todo tempo, moças católicas da Renovação Carismática Católica, eu disse pra elas, nem mais o campeão do mundo salva...Só Jesus. Aí elas disseram, nós vamos ficar todo o tempo rezando. Aí um monte de gente aglomerado na mesa que eu ia perder, e por azar meu era o melhor jogador lá do Mato Grosso. Aí eles rezaram, rezaram.Eu fiquei toda partida perdido, e na última hora, no último momento, Jesus deu um jeito, eu consegui empatar a partida, quase que milagrosamente. Milagrosamente! Mas realmente, eu estou há 30 anos sem perder nenhuma partida em simultânea no Brasil, e espero ainda ficar muitos anos.
Éboli: Legal, Mequinho, obrigado pela sua participação. Sucesso aí neste evento em Guarulhos, você jogando simultaneamente contra estes 20 jogadores. Muito obrigado. Bom saber que você está bem, voz firme, seguindo nesta carreira brilhante.
Mequinho: Muito obrigado, e eu quero o apoio de todos os brasileiros, e de vocês da imprensa, porque eu tenho chance de voltar a ser um dos melhores do mundo , e isso vai acontecer, com a ajuda de Deus, mas eu tenho chance até mesmo de ser campeão do mundo. O Anand na Índia, ele foi campeão do mundo, porque lá na Índia, todo mundo o apóia. Ele é um herói nacional, destaque em toda imprensa, em todos os meios. É preciso aqui no Brasil eu ter este apoio, entendeu? É muito importante pra mim, muito importante. Obrigado e foi um prazer falar com você e com os ouvintes da rádio, tá bom? Muito obrigado!
Éboli: Muito bem, eu conversei com Henrique da Costa Mecking, o Mequinho, um dos maiores enxadristas do mundo, e ele é brasileiro, hein ?
Contato: leopasq10@yahoo.com.br
Mequinho: Mas você sabe, não há nenhum caso em todo o esporte brasileiro, eu digo no esporte, não é só no xadrez, é no tênis, no futebol, no basquete, um jogador que tenha ficado 17 anos sem jogar o seu esporte e tenha voltado a ser o número 1 da seleção brasileira. Eu joguei já duas vezes como número 1 da seleção brasileira, e estou subindo agora cada vez mais. Por que estou subindo? Tenho 54 anos, mas eu faço esportes. Segundo um especialista que me faz a preparação física, eu tenho preparação física de 35 anos. Graças a Deus! Porque eu muitas vezes pedi a Deus, eu sou teólogo católico, Jesus me salvou através de oração de pessoas da Renovação Carismática Católica, que é o movimento que mais cresce dentro da igreja católica, exatamente porque Jesus tem curado muitos doentes, e aqui inclusive em Guarulhos eu trouxe 50 exemplares do meu livro, qualquer pessoa no Brasil inteiro pode comprar, está na sexta edição, “Como Jesus Cristo Salvou Minha Vida”, ed. Loyola, autor sou eu Mequinho. Este livro está para ser publicado agora na Itália, onde eu venci um torneio agora em junho, então eu fiquei estes anos todos sem jogar xadrez. Eu também me formei em teologia católica, em filosofia, e passei 17 anos sem jogar xadrez e voltei a ser o primeiro da seleção brasileira de xadrez.
Éboli: E pelo jeito voltou melhor do que antes, não é Mequinho, porque voltou com muita disposição, a gente percebe nas suas palavras, na sua voz, como os médicos falam, 54, mas com “corpinho” de 35, e mostrando que preparo físico é fundamental, mesmo no xadrez. As pessoas tem aquela imagem, o sujeito sentado, pensando, mão na cabeça, qual é a melhor jogada? Jogo de precisão, num tabuleiro, um confronto, desafio de mentes, mas estar bem fisicamente é fundamental também.
Mequinho: Porque quando eu estou descansado, esta doença que eu tenho, esta “miastenia gravis”, que é um mau contato entre os nervos e os músculos, de qualquer maneira então, teoricamente, qualquer esforço que eu faça, física ou mental, eu demoro um pouco mais de tempo que as demais pessoas pra me recuperar. Esta cura tem sido me dada de maneira milagrosa por Jesus. Em 1979 me davam apenas 15 dias de vida, porque eu não podia mastigar fazia um mês e meio. Esta doença pode atacar qualquer músculo do corpo, as pernas estavam fortemente atacadas, eu sem mastigar, só podia tomar alimentos líquidos, ia enfraquecendo de dia pra dia. Você não imagina! Quem lê o meu livro, quem tem um doente na família fica maravilhado, como eu estava tão mal, pra morrer, e agora eu vou pelo mundo inteiro, vou pra Espanha, para a Itália, ganho torneio de xadrez, faço esporte, e estou muito bem, não é? Então Jesus está me curando progressivamente, agora eu já estou 99,9% bom, então, na medida em que vou ficando cada vez melhor, eu vou jogando melhor xadrez.
Éboli: Vamos voltar lá no início, cinco anos de idade, foi quando você começou a jogar, não foi?
Mequinho: Exatamente, com sete anos eu já era vice-campeão da minha cidade onde eu jogava, no Rio Grande do Sul, mas jogando entre adultos. Atualmente no xadrez tem muitas categorias, sub-10, sub-12, sub-14, no meu tempo não era assim, há 40 anos atrás, ou era juvenil ou adulto, e eu jogava só com os adultos, com sete anos eu já era vice-campeão da cidade, que no caso era São Lourenço do Sul, jogando com adultos, com 12 anos eu já era campeão do Rio Grande do Sul.
Éboli: Porque você era um extra-série. Hoje, um enxadrista, mais novo, ele mesmo se revelando um extra-série, como você é, um mestre do xadrez, já jovem revelando este dom que você tem para esta modalidade, para este jogo, quer dizer uma pessoa mais jovem não pode se misturar com os adultos, não pode jogar numa categoria superior, mesmo tendo capacidade para tal?
Mequinho: Não, claro que pode. Mas exatamente eu jogava porque eu conseguia ganhar dos adultos. Então, esta cidade onde eu morava, era uma cidade relativamente pequena. Aí, um pouco depois, quando eu tinha oito anos de idade, a minha família já mudou para uma cidade maior, que era Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde lá havia um senhor que era tri-campeão gaúcho, e vice-campeão brasileiro. Aí eu demorei 3 anos para conseguir superá-lo, ele tinha sido vice-campeão brasileiro! Com 12 anos eu consegui derrota-lo, ser campeão do Rio Grande do Sul, com 13 anos eu consegui ser campeão brasileiro, a primeira vez que eu joguei o campeonato brasileiro! Mas quer dizer, campeonato brasileiro de todas as idades, absoluto. Depois com 15 anos eu fui campeão da América do Sul e mestre internacional; com 20 anos era grande mestre internacional, que é o maior título vitalício que a federação mundial dá. Acima de mestre e grande mestre internacional, só tem o campeão do mundo, mas não é um título vitalício, quer dizer ele pode ganhar hoje, daqui a um ano, daqui a meio ano, daqui a dois anos ele pode perder. O título de grande mestre internacional é o maior título que a pessoa não perde nunca, é vitalício.
Éboli: Em 1978, Mequinho, você atingiu a pontuação de terceiro melhor do planeta no xadrez, atrás apenas do Korchnoi e do Karpov... O que você lembra desta época e destes dois jogadores?
Mequinho: Eu era o melhor jogador fora da Rússia, os dois eram russos, então eu estava no auge, a doença começou um ano antes, em 1977, aí eu fui caindo, fui caindo também porque houve uma inflação muito grande no ranking da federação mundial. No xadrez chama-se “rating”, então em determinado momento, a federação mundial deu 100 pontos para as mulheres, e então isso inflacionou muito o mercado, se não tivesse havido esta inflação eu ainda estaria entre os melhores do mundo, quer dizer, não sei bem que número, eu estaria entre os 40, os 50, mas eu estou subindo rapidamente agora. Basta eu jogar torneios internacionais. Eu estou jogando cada vez melhor. Nos últimos 5 torneios internacionais que eu joguei, eu perdi só uma partida, entendeu? Na realidade eu sou muito católico, quando eu começo a ficar mal na partida, eu começo a pedir a Jesus e a Nossa Senhora que me salvem, e Jesus fica com pena de mim, que ele sabe que eu gosto muito pouco de perder, tenho horror a perder, e estou dizendo que em cinco torneios internacionais, foram em São Paulo, a zona sul-americana do Brasil (Brasil, Peru e Bolívia), depois um torneio internacional em Caxias do Sul, outro na Itália, outro na Espanha, e outro agora no Paraná, em Guarapuava, em 5 torneios internacionais, joguei 15 partidas com grande-mestres internacionais, eu só perdi uma partida, é uma coisa maravilhosa!
Eboli: Quantas vezes você enfrentou o Karpov?
Mequinho: Karpov, eu sempre saí mal com ele, só empatei uma com ele, porque eu joguei, a primeira, eu não era Grande Mestre, com ele eu não tenho bom “score”. Por exemplo, eu já ganhei duas vezes de um outro ex-campeão do mundo, e já ganhei uma vez também de um outro ex-campeão do mundo, esse outro já morreu, o Miguel Tal, que é considerado um tremendo gênio do xadrez, ele sacrificava as peças, fazia combinações, ataques devastadores, e a única que eu joguei com ele eu ganhei. Até foi uma pena, como ele já morreu, ele jogou comigo e disse: “Joguei com Mequinho, perdi, mas espero que esta partida foi a primeira, e que não seja a última”, mas, infelizmente foi também a última, pois ele morreu.
Éboli: Com Karpov era complicado, mesmo você solicitando a ajudinha divina ...
Mequinho: Não, porque quando eu joguei com Karpov eu não era religioso como eu sou hoje. Foi por isso, entendeu? Quando eu joguei com Karpov, eu não era..., eu me converti depois que fiquei doente. Na realidade, de todas as partidas que eu joguei com Karpov, só a última é que eu era religioso, entendeu? Quando eu voltei, no ano 2000, você pensa bem, em qualquer esporte, não precisa nem ser xadrez, um atleta que fica dezessete anos sem jogar o seu esporte, se recente. Então no ano 2000, 2001, 2002, eu não estava ainda a todo vapor, eu me recentia daqueles anos todos, eu parado. Agora eu estou indo cada vez mais com mais vigor. Por exemplo, o Karpov veio pra cá jogar uma simultânea, no Brasil, no Clube de Xadrez São Paulo, faz 1 ou 2 anos atrás, ele jogou contra 20 jogadores, e perdeu uma partida, empatou algumas, parece que empatou 4 e ganhou o resto, 15. E eu não, eu no Brasil, há 30 anos eu não perco nenhuma partida em simultânea.
Éboli: eu quero saber então se ao menos um destes 20 jogadores que estarão com você, fazendo esta simultânea, se alguém vai ter a capacidade de derrubar, de quebrar esta seqüência brilhante do Mequinho...
Mequinho: Não, nem fale, nem fale nisto! Eu estou há 30 anos sem perder nenhuma partida. Teve uma vez em Cuiabá, que eu me distraí... Você sabe jogar xadrez, não sabe? Eu perdi um cavalo...Eu tinha só dois peões, mas eu estava totalmente perdido, eu me distraí.Eu pensei que a simultânea era mais fraca... E, em determinado momento eu me distraí.Aí as moças ficaram rezando todo tempo, moças católicas da Renovação Carismática Católica, eu disse pra elas, nem mais o campeão do mundo salva...Só Jesus. Aí elas disseram, nós vamos ficar todo o tempo rezando. Aí um monte de gente aglomerado na mesa que eu ia perder, e por azar meu era o melhor jogador lá do Mato Grosso. Aí eles rezaram, rezaram.Eu fiquei toda partida perdido, e na última hora, no último momento, Jesus deu um jeito, eu consegui empatar a partida, quase que milagrosamente. Milagrosamente! Mas realmente, eu estou há 30 anos sem perder nenhuma partida em simultânea no Brasil, e espero ainda ficar muitos anos.
Éboli: Legal, Mequinho, obrigado pela sua participação. Sucesso aí neste evento em Guarulhos, você jogando simultaneamente contra estes 20 jogadores. Muito obrigado. Bom saber que você está bem, voz firme, seguindo nesta carreira brilhante.
Mequinho: Muito obrigado, e eu quero o apoio de todos os brasileiros, e de vocês da imprensa, porque eu tenho chance de voltar a ser um dos melhores do mundo , e isso vai acontecer, com a ajuda de Deus, mas eu tenho chance até mesmo de ser campeão do mundo. O Anand na Índia, ele foi campeão do mundo, porque lá na Índia, todo mundo o apóia. Ele é um herói nacional, destaque em toda imprensa, em todos os meios. É preciso aqui no Brasil eu ter este apoio, entendeu? É muito importante pra mim, muito importante. Obrigado e foi um prazer falar com você e com os ouvintes da rádio, tá bom? Muito obrigado!
Éboli: Muito bem, eu conversei com Henrique da Costa Mecking, o Mequinho, um dos maiores enxadristas do mundo, e ele é brasileiro, hein ?
Contato: leopasq10@yahoo.com.br
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Xadrez e Reabilitação Neuropsicológica
(ilustração: "Neurônio" - Bruna Paciornik - EIBSG)
Amigos,
Cada vez
mais o Xadrez tem sido usado como ferramenta de desenvolvimento e de
reabilitação, de crianças e adultos, em questões neuropsicológicas.
Pesquisando
no site de publicações científicas, PUBMED, descobri dois trabalhos da
pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da USP, a Priscila Dib. Seus artigos
se referem a buscas de alternativas de reabilitação neuropsicológica das
Funções Executivas (FE). Parte nobre de nosso cérebro, o cortéx pré-frontal,
local de redes neuronais que, segundo importantes pesquisadores (Lezak, Miyake,
Diamond), é responsável por, principalmente, Volição, Planejamento,
Flexibilidade, Inibição e Memória de Trabalho, as chamadas FE.
A Metacognição,
onde o paciente verbaliza consigo mesmo (com ajuda de intervenções por parte do
terapeuta) as estratégias e caminhos de suas ações, para que ele próprio tenha
consciência de suas atitudes e seja o protagonista de suas mudanças, é inerente
ao próprio aprendizado e desenvolvimento das habilidades no Jogo de Xadrez. Por
que não usar desta técnica em reabilitação, fazer com que o paciente compreenda
suas próprias decisões, estratégias?
Segundo a
pesquisadora, “os jogos podem promover e exercer grandes mudanças em seus
participantes, fazendo associações com a vida real e não com experiências ou
materiais artificiais”. A interação com adversários faz com que não apenas o
cognitivo seja estimulado, mas também em aspectos subjetivos – as nossas
emoções.
Os primeiros
resultados destas pesquisas usando o Jogo de Xadrez, com dependentes de
substâncias (cocaína) mostrou melhora na Memória de Trabalho e Inibição
(impulsividade).
Novos
estudos precisam ser realizados para comprovar esta nova ferramenta da
neuropsicologia, o Xadrez!
Próximo post: continuação sobre as pesquisas no Instituto de Psiquiatria da USP – IPq FMUSP
Referências: Neuropsychological Rehabilitation of Executive
Functions: Challenges and Perspectives; Priscila Dib Gonçalves, Mariella
Onetto, Gabriela Sendoya, Cristine Lacet, Luciana Monteiro, Paulo Jannuzzi
Cunha; Journal of Behavioral and Brain Sience, 2014;
Assinar:
Postagens (Atom)